Espetáculo 'Theatro Musical Brazileiro' resgatou elo com MPB

Dividida em duas partes, peça foi dirigida por Luís Antônio Martinez Corrêa nos anos 1980

NELSON DE SÁ
São Paulo
Espetáculo "Theatro Musical Brazileiro - Parte I (1860/1914)", de 1985, dirigido por Luis Antônio Martinez Corrêa, com vera Holtz (terceira da esq. para a dir.) no elenco
"Theatro Musical Brazileiro - Parte I (1860/1914)", de 1985, com Vera Holtz (de penacho) no elenco - Reprodução

Nos anos 1980, dois espetáculos roteirizados pelo diretor Luís Antônio Martinez Corrêa e pelo diretor musical Marshall Netherland realizaram um primeiro resgate dos elos históricos indissociáveis entre o teatro e a música popular no Brasil.

"Theatro Musical Brazileiro - Parte I (1860/1914)" e "Parte II (1914/1945)" foram desenvolvidos na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no Rio de Janeiro, onde o diretor dava aulas de teatro, com jovens intérpretes como Annabel Albernaz, Floriano Peixoto e Vera Holtz.

Luís Antônio havia dirigido em 1978 o musical "Ópera do Malandro", de Chico Buarque, e, ao lado do pianista americano Netherland e de seus atores, revirou arquivos do MIS (Museu da Imagem e do Som) e outros no Rio atrás de partituras, letras, fotos e demais registros.

O ator e diretor Gilberto Gawronski, então aluno na CAL, acompanhou a montagem da "Parte I" e foi assistente de direção da "Parte II", aos 21 anos. "A gente resgatou muitas coisas perdidas", lembra. "Coisas com traça, que a gente tirava para recuperar uma nota."

Músicas e letras foram reconstruídas e levadas ao palco. As fotos serviram de referência para os figurinos de Maurício Sette no primeiro espetáculo e de Patrício Bisso no segundo.

O diretor Luís Antônio Martinez Corrêa em 1983 - Evanir R. Silveira/Folhapress

O trabalho foi facilitado porque a viúva do célebre comediante Oscarito, a também atriz Margot Louro, "tinha um baú que foi uma descoberta maravilhosa".

Dele e de outros saíram achados sobre o dramaturgo Artur Azevedo, para a primeira parte, e o produtor Walter Pinto, para a segunda.

"Surgem essas pessoas populares com musical, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Vicente Celestino em 'O Ébrio', todos estavam dentro", recorda Gawronski. "Foi uma época de ouro. Era muito popular, remunerava, muita gente trabalhava."

Luís Antônio, que nos anos 1980 encenou ainda duas peças de Artur Azevedo e uma versão de "O Percevejo", de Maiakóvski, musicada por Caetano Veloso, morreu assassinado no Rio pouco depois da estreia da "Parte 2", no final de 1987.

"Ele trouxe de novo que nós também temos um legado muito potente, que fala ao público", diz Gawronski, referindo-se ao domínio atual dos musicais da Broadway.

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