Descrição de chapéu

Com viés pedagógico, 'Encantados' cumpre papel a que se propôs

Filme não pretende ser um achado autoral e é voltado ao público infantojuvenil

Andrea Ormond
São Paulo

Encantados

  • Quando estreia nesta quinta (8)
  • Elenco Ângelo Antônio, Laura Cardoso, Rod Carvalho
  • Produção Brasil, 2014, 14 anos
  • Direção Tizuka Yamasaki

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Imagine o “bullying” sofrido por uma menina que se descobre pajé, conversando com criaturas invisíveis.

Eis a trama de “Encantados”. Nos idos do século 20, na região amazônica, Zeneida (Carolina Oliveira) enfrenta o estigma de não poder assumir a origem indígena. Mesmo assim, na contramão das expectativas, prefere ser fora do padrão e sentir-se livre.

Cena de Encantados. Dir: Tizuka Yamasaki
Zeneida (Carolina Oliveira) e Antônio (Thiago Martins) em cena de "Encantados" - Divulgação

Trajetória semelhante foi seguida pela diretora do filme, Tizuka Yamasaki. Em “Gaijin, Os Caminhos da Liberdade” (1980), Tizuka utilizou a memória afetiva —as famílias nipo-brasileiras— para tocar em um nicho diferente e pouco explorado no cinema nacional: os imigrantes japoneses nas colônias de café. Ainda hoje, é um dos pontos altos de sua obra.

“Encantados” foi concluído em 2014 e inspirado no livro “O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó”, da pajé e educadora Zeneida Lima. A voz de Zeneida aparece em alguns momentos nos lábios da protagonista —que, não à toa, tem o seu mesmo nome.

Em termos de linguagem cinematográfica, essa técnica deixa claro que o tempo todo “Encantados” dialoga com as fábulas do livro e com a Zeneida real. Fica nítida a admiração por Zeneida Lima, conhecida pelo trabalho com crianças carentes e pelos livros sobre lendas da Ilha de Marajó.

O termo “encantados” refere-se às criaturas invisíveis aos olhos dos outros, mas sentidas de perto pela  Zeneida personagem. Ela se apaixona por Antônio (Thiago Martins): um “caruana”, uma entidade das águas doces.

A moça enfrenta a origem social “mestiça”. É filha de uma mulher que renega a avó índia. A expressão “sangue ruim”, por mais que choque os ouvidos, aparece no filme. E, em termos de “empoderamento”, além de toda a questão étnica, “Encantados” utiliza mulheres fortes: Zeneida e Cotinha (Dira Paes), a faz-tudo na casa.

O filme tem, portanto, forte viés pedagógico, voltado especialmente para o público infantojuvenil. Nada que se assemelhe a “Iracema, Uma Transa Amazônica” (1974), também ambientado no Pará, em que as fronteiras entre o documental e o ficcional se diluem.

Mas atenção: ao invés de ser um impedimento, é preciso entender as razões do cinema popular. “Encantados” não pretende ser um achado autoral, mas uma história contada com princípio, meio e fim, no esforço mediano de elementos. Nesse sentido, cumpre o papel a que se propôs.

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