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Documentário sobre ladrão de livros se equilibra entre a simpatia e a repulsa

'Cartas para um Ladrão de Livros'  conta como um balconista de padaria entrou no mercado ilícito

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São Paulo

cartas para um ladrão de livros

  • Quando em cartaz
  • Produção Brasil, 2017; 12 anos
  • Direção Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini

Veja salas e horários de exibição

"Tirar coisas do Estado, eu acho de bom grado", declara, sem disfarçar certo orgulho, Laéssio Rodrigues de Oliveira, o maior ladrão de obras raras da história recente do Brasil.

Ele se justifica: "A gente tem um Estado tão desmoralizado, que não cuida de acervo, educação ou cultura, que eu sinto é prazer em tirar essas coisas dos ambientes públicos. O governo depois que se vire pra explicar".

Se é difícil discordar da avaliação, também o é tomá-la como justificativa para o crime. É neste fio da navalha, entre simpatia e repulsa, que se equilibra o documentário "Cartas para um Ladrão de Livros", dos jornalistas-cineastas Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini.

A produção foi criticada ainda nas filmagens pela possível a glamorização de um fora da lei. Investir em Laéssio foi aposta alta. Pobre e ambicioso, inteligente e autodidata, divertido, vaidoso e amoral, ao aceitar ser objeto de um filme, ele se lança na empreitada de narrar furtos como feitos para construir uma espécie de legado.

No filme, Laéssio conta a história do balconista de padaria que entra no mercado ilícito de obras raras a partir da paixão por Carmem Miranda, que o teria levado a feiras de antiguidades, bibliotecas, museus e arquivos públicos na busca por itens para colecionar.

O documentário acompanha entradas e saídas da prisão de 2012 a 2017, pontuadas pela conversas entre ele e um dos diretores —o que contorna maniqueísmos e agrega camada de conflitos ao binômio crime e castigo.

Se na exposição da banalidade de um ladrão confesso está um dos méritos da obra, outro está em tudo aquilo que não é dito ou censurado no filme.

O longa evidencia o que se chama de seletividade do sistema de justiça do país: ele já foi preso e condenado ao menos quatro vezes, mas a apuração nunca atingiu colecionadores que receptavam obras.

O uso de tarjas pretas para cobrir os lábios do protagonista na única ocasião em que cita um cliente e para censurar trechos de um telegrama que ameaça os diretores de processo caso certo colecionador tenha o nome citado dão ideia do tamanho da encrenca.

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