Descrição de chapéu Oscar

Italianos que disputaram Oscar técnicos debatem receita de sucesso

Profissionais se reuniram em Milão para curta da grife Armani

Pedro Diniz
Milão

No Oscar eles ganham as primeiras estatuetas —mas até chegar ao palco, dificilmente são objeto de discussões apaixonadas sobre quem vai levar o prêmio.

A equipe técnica, contudo, tem suma importância no sucesso de um filme e pode, literalmente, salvar as peles da mocinha e do mocinho.

Figurinistas, maquiadores, cabeleireiros e diretores de fotografia são como artesãos da imagem em meio a uma premiação que parece tratar as categorias técnicas como lembrancinhas da Academia aos longas de fora da lista principal —vide a coleção de estatuetas de franquias como "O Senhor do Anéis".

"É um trabalho que serve ao diretor e ao roteiro. No meu caso, é algo que constrói a psicologia de umapessoa", explica a figurinista italiana Gabriella Pescucci, 75, uma das preferidas do diretor Ettore Scola (1931-2016) e vencedora do Oscar em 1994 por "A Época da Inocência" (1993), de Martin Scorsese.

Ela e outros sete profissionais italianos renomados participaram, durante a semana de moda de Milão, do Armani/Laboratorio, projeto do estilista Giorgio Armani para estudantes de cinema.

Juntos, auxiliaram os alunos a criarem a narrativa visual de um curta, "A Jaqueta", patrocinado pela grife. Na estreia, falaram à Folha sobre o que seria a imagem perfeita segundo Hollywood.

Para Pescucci, essa é uma fórmula que não existe; a imagem perfeita da indústria seria proporcional às bilheterias. "Os Oscar menores são resultados do sucesso de um filme. Quanto maior for, mais prêmios pequenos ganha."

Ela, que também foi indicada pelo guarda-roupa de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Tim Burton, explica que, na confecção de um possível filme "oscarizado", a pesquisa conta pontos.

"Meu processo é estudar o período [no qual o filme é ambientado] e, depois, partir para a parte mais difícil, que é encontrar os tecidos perfeitos. Não podemos ir pela moda do momento; o trabalho é construir um palácio que não existe, tijolo por tijolo."

Cansadas, mas lindas

Beleza, nesse campo, é o que pode de fato pôr mesa.

"Você tem de ser preciso, os atores não gostam de ficar horas numa cadeira. Lidamos com estrelas que acordam cansadas e querem ficar lindas", ri Maurizio Silvi, 68, maquiador que dividiu com o "hairstylist" Aldo Signoretti a indicação por "Moulin Rouge" (2001), de Baz Luhrmann.

Os cabelos e a pele esplendorosos de Nicole Kidman no filme, no entanto, não foram páreo para o visual estranho de Gollum e companhia em "O Senhor dos Anéis: a Sociedade do Anel", de Peter Jackson, vencedor da categoria na edição de 2002.

"Sou muito grato pela indicação, mas os critérios são aleatórios. Não dá para comparar dois trabalhos tão diferentes", diz Silvi. "Ganhar Oscar é uma grande loteria."

MUNDO de FANTASIA

Segundo o diretor de fotografia Luca Bigazzi, 59, que, como a dupla Silvi e Signoretti, trabalhou com Paolo Sorrentino em "A Grande Beleza" (Oscar de melhor filme estrangeiro em 2014), os jovens têm a seu favor inovações que barateiam custos e permitem testes de luz antes impossíveis de executar.

"Do ponto de vista da imagem, é uma grande oportunidade para os jovens crescerem sem as limitações da celuloide, que exige muita luz", diz Bigazzi. "A partir do momento que podemos usar a luz do dia, o espectro documental ganha espaço."

Talvez não em Hollywood. "A grande indústria está mais interessada na imagem fora da realidade, porque, você sabe, o cinema é o espelho da realidade e, do jeito que as coisas vão mal no mundo, filmar uma ideia de mundo melhor é uma forma de fugir dessa realidade."

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