Descrição de chapéu

Várias hipóteses justificam obra de Helena Solberg ser menos famosa

Nos EUA, diretora desenvolveu uma obra voltada sobretudo a questões sociais

Inácio Araujo
São Paulo
A cineasta Helena Solberg, que aprendeu a privilegiar o real, e não a fantasia - Zô Guimaraes/Folhapress

Com o cinema novo, de que foi contemporânea, Helena Solberg aprendeu a privilegiar o real, e não a fantasia. Mas seu primeiro filme, “A Entrevista”, de 1966, não foi buscar inspiração na realidade social, como tantos dos filmes da época.

Em vez disso, optou por observar a si mesma, à sua formação de garota burguesa, colando às imagens trechos de 30 entrevistas com mulheres. O resultado é bem menos conhecido que documentários clássicos da segunda metade dos anos 1960 (de “Opinião Pública” a “Nelson Cavaquinho”).

Por quê? —perguntam-se estudiosas da obra de Solberg, como Karla Holanda e Mariana Ribeiro Tavares, coautoras no volume “Feminino e Plural” ( Papirus), de ensaios dedicados ao cinema feito por mulheres no Brasil.

Talvez porque fosse inusual mulheres dirigirem filmes. Talvez porque a história tenha sido escrita por homens. Talvez pelo hábito de não levar as mulheres a sério... Todas essas hipóteses será possível conferir a partir desta quarta (7), na retrospectiva dedicada à autora, pelo CCBB.

O rótulo de feminista colado a ela por conta de “Entrevista” não se sustentaria por muito tempo. 

Nos EUA, para onde mudou por conta do casamento, desenvolveria uma obra voltada sobretudo a questões sociais, num momento em que, com a Guerra do Vietnã, a contestação era ampla e abrangia vários temas (de invasões norte-americanas na América Latina a questões de cor e gênero).

Elas estão em filmes como “Double Day” ou “Forbidden Land”, na maior parte das vezes feitos para a televisão pública americana.

De volta ao Brasil, Solberg continuou a observar o mundo real, mas sob uma ótica diferente: biografar Carmen Miranda significava também fazer a ponte Brasil/EUA. Seu trabalho aqui tem um tanto de investigação da trajetória de Carmen nos EUA, um tanto de admiração pela estrela internacional que ela soube ser e um tanto de nostalgia pela distância de seu país.

Há um tanto da autora,  inclusive pelo aspecto ficcional com que Carmen produziu sua própria imagem. 

Neste filme que a firmou como uma importante documentarista, já se vislumbra ali o gosto pela ficção que desencadearia o belo “Vida de Menina”, adaptação vigorosa e suave do livro homônimo de Helena Morley.

Apesar da montanha de prêmios ganha no Festival de Gramado, o filme acabou quase ignorado pelo público, o que é uma enorme injustiça: “Vida de Menina”, ainda que desconhecido, é um dos melhores filmes brasileiros da primeira década. 

E, sem dúvida, uma razão a mais para conhecer um pouco da obra de Helena Solberg, agora que ela se prepara para, em junho, celebrar seus 80 anos.

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