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Jabuti veta livros que usam inteligência artificial e deixa de premiar obras de ciências

Literatura técnica será abarcada pelo troféu Jabuti Acadêmico; haverá novas categorias para saúde, educação e poeta estreante

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São Paulo

O Jabuti vai deixar de premiar obras de ciências, ciências humanas e ciências sociais neste ano, anunciou a Câmara Brasileira do Livro nesta quinta-feira, ao apresentar a 66ª edição do troféu.

estatueta de jabuti dourado
Estatueta dourada do prêmio Jabuti de livro do ano - Avener Prado/Folhapress

A justificativa é a criação do Jabuti Acadêmico, braço da mesma instituição voltado a publicações mais técnicas, que incorporará categorias similares. No lugar, o prêmio mais tradicional da literatura brasileira terá três novas categorias voltadas a saúde e bem-estar, educação e negócios.

"Notamos que as categorias com mais ISBNs emitidos no Brasil são relacionadas a educação e a saúde e bem-estar. As editoras têm se ocupado muito de livros dessas áreas, então queremos avaliar e prestigiar esses talentos", afirma o curador Hubert Alquéres, que organiza a premiação pela segunda vez consecutiva.

Segundo ele, a educação é um "fator fundamental para o desenvolvimento do país", enquanto obras voltadas ao bem-estar tomaram a dianteira no mercado editorial depois da pandemia.

Entre os ganhadores da edição anterior, a categoria de ciências premiou o jornalista Matthew Shirts com uma obra sobre a emergência climática; a de ciências sociais foi para Marcos Nobre, ex-presidente do Cebrap, com seu livro "Limites da Democracia"; e a de ciências humanas foi para Cassio Pantaleoni com "Humanamente Digital", uma obra sobre inteligência artificial.

Outra mudança anunciada pela CBL é o veto expresso a obras que usam inteligência artificial nesta próxima edição. No ano passado, houve uma polêmica ruidosa pela inclusão de uma ilustração feita com auxílio de IA entre os semifinalistas desta categoria.

A edição do clássico "Frankenstein", de Mary Shelley, publicada pelo Clube de Literatura Clássica, foi desenvolvida com a ferramenta Midjourney pelo designer Vicente Pessôa, que aparecia indicado ao principal prêmio literário do Brasil.

"Não existia vedação a inteligência artificial, era um tema ainda não muito discutido", afirma Alquéres. "O regulamento foi omisso, então a curadoria tomou a decisão de desclassificar aquele candidato. Agora colocamos expressamente nas regras que livros feitos com auxílio de IA não poderão se inscrever."

Segundo ele, serão permitidos livros que discutam o tema, mas não textos e imagens realizados com a ajuda desse tipo de ferramenta.

Outra mudança no Jabuti é a inclusão de uma categoria para escritores estreantes de poesia. A premiação específica para autores novatos, inaugurada na edição de 2023, se voltava apenas aos romancistas, o que motivou críticas ao prêmio.

Segundo Alquéres, "a categoria que teve mais inscrições no ano passado foi a de poesia, incluindo muitos autores que lançavam seus primeiros livros". Daí a intenção de expandir o prêmio em uma seção só para novos poetas.

O Jabuti Acadêmico, que já encerrou suas inscrições, é manifestamente voltado a obras mais científicas e a um público especializado, em oposição ao Jabuti tradicional, que se dedica a um leitorado mais amplo —incluindo categorias para livros populares como "romances de entretenimento".

A premiação acadêmica deve acontecer em agosto e tem como curador Marcelo Knobel, que foi reitor da Unicamp.

As 27 categorias do eixo Ciência e Cultura do novo prêmio são mais específicas que os amplos guarda-chuvas de "ciências humanas" e "ciências sociais", incluindo troféus para economia, história, antropologia, medicina, administração pública e de empresas e relações internacionais, só para citar alguns exemplos. Ainda haverá prêmios de ilustração e divulgação científica, totalizando 29 categorias.

As inscrições para o Jabuti estão abertas até 13 de junho. Assim como no ano passado, o vencedor como livro do ano ganha R$ 70 mil e uma viagem à Feira de Frankfurt, o maior mercado de livros do mundo. Cada um dos outros ganhadores leva R$ 5 mil —mesmo valor pago pelo Jabuti Acadêmico.

A festa neste ano deve ser antecipada para o começo de novembro —nos últimos anos, vinha acontecendo em dezembro.

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