Descrição de chapéu

'Adoniran' tenta mostrar compositor além da alegria boêmia

Documentário ora desmente, ora atenua imagem de um homem feliz

Festival É Tudo Verdade
Cena do documentário "Adoniran - Meu Nome é João Rubinato", de Pedro Serrano - Divulgação
Inácio Araujo
São Paulo

Adoniran – Meu Nome É João Rubinato

  • Quando em SP, qui. (12), às 17h no IMS; qui. (19), às 17h, no CCSP; dom. (22), às 11h, no Sesc 24 de Maio; no Rio, ter. (17), às 18h, no Estação Net Botafogo
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Pedro Serrano

"Adoniran - Meu Nome É João Rubinato" não escapa ao arsenal de formas consagradas pelo documentário contemporâneo: entrevistas; fotos e filmes reencontrados; filmagens adjacentes.

Seu objetivo é, porém, bem menos convencional: trata-se revelar um Adoniran que não conhecemos (ou poucos conhecem) sem por isso apagar aquele que se conhece.

O que se conhece: o compositor, sambista paulistano por excelência, cronista agudo dos bairros periféricos (ainda que de uma "periferia interior", como o Bexiga), o inventor de um vocabulário pessoal, que se tornou tradução exata do italianado paulista. A isso pode se seguir uma fileira de etcéteras.

É disso tudo que "Adoniran" busca dar conta. Não é um esforço pequeno: trata-se de encontrar a singularidade numa obra (e numa vida) bastante plural, em que o trabalho como radialista e ator (de rádio, de TV, de cinema) não é bem secundário.

Ao contrário: para o filme, o fato central, mais que o samba, é o rádio. Ali ele quis entrar como calouro, se fez compositor (e cantor) tendo como modelo a canção carioca. Ali também desenvolveu tipos humorísticos.

Isso, a fama de boêmio, o jeito e o linguajar de malandro e mais algumas composições de sucesso acabaram por fixar a ideia de um homem feliz —ao menos alegre. Essa imagem o documentário ora desmente, ora atenua.

Com efeito, a associação entre as músicas e as imagens mostra um poeta da transformação acelerada, quase demencial, de uma cidade que passa de província a metrópole em poucos anos.

Do "pogressio" a conta, alta, ficará com os pobres, que surgem quase sempre como atônitos protagonistas das músicas de Adoniran.

O partido é bem mais existencial do que político: interessa ao músico captar o drama mais do que tirar-lhe consequências. Não julga as transformações: elas acontecem.

O Adoniran-Rubinato do filme é o alegre boêmio mas é também o da imagem do palhaço triste que Elifas Andreato desenhou para capa de um disco em sua homenagem, e à qual o compositor, mais do que com qualquer outra, se identificou.

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