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'Até a Última Página' narra ascensão e queda do Jornal do Brasil

Autor intercala perfis reveladores com passagens sobre imprensa e política

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Edição do Jornal do Brasil de 1º de setembro de 2010 - Vandelei Almeida/AFP
Oscar Pilagallo
Jornalista, é autor de “História da Imprensa Paulista”

História do Jornal do Brasil

  • Preço R$ 69,90 (568 págs.)
  • Autoria Cezar Motta
  • Editora Objetiva

Em seus dias de glória, de meados dos 1950 até o início dos anos 1970, o Jornal do Brasil foi o matutino mais importante do país, seguido à distância pelo Estadão. Nessa época, o Globo recendia a vespertino, e a Folha não tinha feito as reformas editoriais que a projetariam nacionalmente.

Tal relevância tornou conhecida a história do JB, o que talvez tenha sido um dos grandes desafios de Cezar Motta ao escrever "Até a Última Página", cujo lançamento coincide com a volta do jornal às bancas, após quase oito anos.

Se a ausência de grandes novidades não diminui o interesse pela narrativa, o mérito é do autor, que soube intercalar perfis sucintos e reveladores dos protagonistas com passagens contextualizadas sobre imprensa e política.

O diário nasceu na oposição, monarquista convicto na República ainda embrionária de 1891. Nas décadas seguintes perdeu prestígio e ganhou dinheiro, transformando-se num jornal de classificados.

A trajetória que interessa a Motta é a inaugurada em 1956, quando a então proprietária, condessa Pereira Carneiro, decide modernizar o JB, na esteira das transformações do governo de Juscelino Kubitschek. "O JB e o JK foram parceiros involuntários do mesmo movimento", anota o autor.

O livro se debruça sobre as três fases principais da grande reforma gráfica e editorial do JB. A primeira, sob responsabilidade de Odylo Costa, filho, durou até 1958. O jornal ganhou cara nova, com diagramação de Amilcar de Castro, mas continuou preso a um passado pré-industrial.

A segunda, em 1959, foi comandada por Janio de Freitas, hoje colunista da Folha, que em poucos dias colocou de pé um projeto moderno, elegante e de grande aceitação. Em um ano, a tiragem dobrou.

A terceira, a partir de 1962, consolidou as mudanças, com Alberto Dines introduzindo métodos e processos aprendidos nos EUA. Em 1973, quando o jornal se encontrava no auge, o jornalista foi demitido —era, como Janio, considerado independente demais.

Depois disso, embora ainda viesse a ter bons momentos, o JB declinou. Motta atribui a decadência a uma conjunção de fatores.

Como a maioria dos observadores, coloca na lista a má administração —refletida na construção de uma sede luxuosa—, a dívida crescente em dólares e a concorrência do Globo, favorecido pelo fôlego e visibilidade que a TV lhe emprestava.

Motta acrescenta um quarto fator: o declínio econômico do próprio Rio, que afetou o mercado de classificados.

Com a crise financeira, o jornal se perdeu editorialmente. Para citar dois exemplos, apoiou Paulo Maluf na eleição indireta que marcou a redemocratização e, perto do impeachment de Collor, comprou sozinho uma versão fabricada sobre a origem de um dinheiro suspeito associado ao presidente, o que custou o que lhe restava de credibilidade.

A obra seria mais completa, e fiel ao título, se Motta, jornalista com rápida passagem pelo JB, tivesse levado a narrativa até os efeitos da venda do jornal a Nelson Tanure.

Além disso, aqui e ali, expressões como "houve quem afirmasse" são pequenas máculas num criterioso trabalho de apuração. São ressalvas pontuais. "Até a Última Página" faz jus ao Jornal do Brasil dos bons tempos.

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