Em fevereiro, quando uma edição impressa do Jornal do Brasil voltou a circular, mais do que encontrar novidades, bateu uma saudade. O projeto gráfico, com mudanças para pior no tipo de letra e espaçamento, recupera o visual dos anos 1980. Mas a viagem no túnel do tempo fica completa se você entrar na banca da esquina e pedir ao jornaleiro: “Por favor, me dá o JB”, frase que parecia impossível de se dizer novamente.
Quem experimentou esse biscoito proustiano deve ter cuidado ao ler “Até a Última Página” (Objetiva), de Cezar Motta. Porque dói n’alma. É uma reportagem alentada que reconstitui a trajetória do JB, da sua fundação em 1881 até o fim como jornal impresso em 2010.
Uma morte anunciada. Em 1992 o colunista Carlos Castello Branco já cantava a pedra: “É como um naufrágio de um grande navio: triste e lento”. Ainda mais profético foi o editor Fritz Utzeri. Ao deparar-se com o edifício-sede da avenida Brasil, 500, inaugurado em 1973 com concepção exagerada até mesmo para os padrões de países ricos, Utzeri comentou: “Aquilo ali parece um hospital, tem a localização perfeita para um hospital, e acho que vai acabar sendo um hospital”. Não deu outra.
Expropriado para pagar dívidas fiscais, bancárias e trabalhistas que em 2001 chegavam a quase R$ 1 bilhão, o prédio de nove andares é hoje o Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia).
No livro, há perfis de jornalistas que fizeram a cara do JB: Janio de Freitas, Carlos Lemos, Alberto Dines, Zózimo Barrozo do Amaral, Millôr Fernandes, Oldemário Touguinhó. Estranhamente o fotógrafo Evandro Teixeira não é lembrado.
A reportagem termina quando o jornal foi arrendado ao empresário Nelson Tanure, conhecido como “coveiro de Gutenberg”. O autor considera que, a partir dali, o JB não era mais o mesmo. Virara um zumbi.
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