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'Lady Susan', de Jane Austen, desfia mazelas da aristocracia do século 18

Heroína às avessas, protagonista seduz leitor pela perversa relação com demais personagens

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Maria Esther Maciel
Escritora e professora de literatura comparada na UFMG

Lady Susan

  • Preço R$ 21,90 (144 págs.)
  • Autoria Jane Austen
  • Editora Grua Livros
  • Tradução Bibiana Almeida

Não deixa de ser espantoso que um livro escrito por uma jovem de 19 anos em plena Inglaterra do final do século 18 possa ter tido tanta engenhosidade e malícia, como é o caso de "Lady Susan", de Jane Austen. A novela desfia, com ironia e humor, algumas das mazelas da sociedade aristocrática daquele tempo.

Com traços que lembram os romances "Evelina" (1778), da britânica Frances Burney, e "As Ligações Perigosas" (1782), de Choderlos de Laclos, o livro só foi publicado 54 anos após a morte da autora.

Ou seja, 75 anos após ter sido escrito, podendo ser considerado um caso à parte na história literária dessa que foi uma das mais notáveis e populares escritoras do período romântico.

Retrato pintado da escritora inglesa Jane Austen - Reprodução

O que confere à novela esse caráter de exceção é, sobretudo, sua ousadia na construção da protagonista que dá nome ao livro. Lady Susan, como uma heroína às avessas, seduz seus leitores pela sua perversa relação com os demais personagens.

Bela, sedutora e ardilosa, não mede esforços para tirar proveito das pessoas com quem se envolve. Arruinada financeiramente após a morte do marido, vale-se de todos os artifícios para enredar homens endinheirados, não importa de que idade ou estado civil, e manipular as pessoas de seu círculo familiar.

Isso inclui a própria filha adolescente, Frederica, a quem trata de maneira cruel, ainda que sob os disfarces da benevolência. Tendo seduzido o marido de uma amiga, e com planos de casar a filha com o rico e apalermado irmão de sua cunhada, Susan não mede seus esforços.

Toda a história vem à tona a partir de 41 cartas trocadas entre os personagens, das quais 16 foram escritas por Lady Susan a diferentes destinatários.

Dessa troca emerge não apenas uma teia de intrigas familiares e amorosas como também um interessante jogo de vozes e pontos de vista, no qual fica explícita a tensão entre os personagens envolvidos, bem como contraditórios ângulos da história.

No centro, a protagonista se esmera em jogos de engano, desarmando até mesmo os que dela desconfiam ou estão a par dos boatos sobre sua condenável reputação.

É por meio das cartas escritas à amiga e cúmplice sra. Johnson, e das desta recebidas, que suas manobras vão aos poucos sendo reveladas, em desacordo com o que escreve aos demais destinatários, os quais tenta convencer de suas boas intenções.

Única obra epistolar de Jane Austen, "Lady Susan" destaca-se também como o mais risível de seus livros, e um dos mais engenhosos, atestando a maturidade precoce da então jovem escritora.

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