Descrição de chapéu

Na contramão de ritmo voraz do cotidiano, obras de Bill Viola valorizam instantes

Mostra inaugural do Sesc Avenida Paulista reúne 12 trabalhos recentes do artista pioneiro da videoarte

Fabio Cypriano
São Paulo

Bill Viola - Visões do Tempo

  • Quando De ter. a sáb., das 9h às 22h; dom. e fer., das 10h às 19h. Até 9/9.
  • Onde Sesc Avenida Paulista, av. Paulista 119, tel. (11) 3170-0800.
  • Preço Grátis

Há pelo menos duas décadas, o pioneiro da videoarte Bill Viola, 67, vem desacelerando o tempo em suas obras. Enquanto o padrão da vida cotidiana é cada vez mais ditado pelo ritmo voraz e inebriante da velocidade da tecnologia, os trabalhos do budista confesso apontam como cada instante conta e merece atenção.

É com Viola que o Sesc Avenida Paulista inaugura sua nova unidade, uma mostra que apresenta 12 trabalhos recentes do artista, criados a partir do ano 2000, desde “O Quinteto dos Silenciosos” até um de seus trabalhos mais recentes, a instalação “Mártires”, uma das duas peças vistas de forma permanente na catedral de St Paul, em Londres.

"Mártires”, de 2014, no Sesc, é vista no que Kira Perov, mulher de Viola e curadora da mostra com Juliana Braga de Mattos e Sandra Leibovici, chama de “estudo”, uma versão menor da videoinstalação, mas não menos impactante.

Nela, quatro pessoas passam por algum tipo de provação, seja uma tempestade de vento, seja uma violenta enxurrada. São os tempos das adversidades, que parecem se espalhar em todas as partes do mundo. Como nas demais obras da exposição, o tempo desacelerado serve de elemento dramático, em uma coreografia precisa de corpos lentos, ao mesmo tempo em que funciona como elemento detonador de reflexão.

É exatamente essa a estratégia que se vê no díptico “Homem em Busca de Imortalidade/Mulher em Busca de Eternidade”, projeções de duas pessoas idosas nuas, que se investigam com fachos de luz de faroletes, observando a passagem do tempo no próprio corpo. Projetadas em granito preto, como se fossem lápides, as imagens apontam para o fim inevitável de toda vida, uma ironia ao nome da obra.

A obra mais impactante da exposição, no entanto, é “Nascimento Invertido” (2014), pela dimensão que ocupa quase todo o pé-direito duplo do andar. Nela, um homem submete-se a correntes de distintos líquidos, de leite a um óleo escuro e viscoso como petróleo.

Mas a mostra não contém apenas infortúnios.

Em “Capelas de Ações Frustradas e Gestos fúteis” e “Estudo para o Caminho” ações se repetem de forma infinita, como as pessoas que atravessam a floresta na segunda obra, como a indicar que intempéries fazem parte de qualquer caminho. O importante é seguir adiante, sugere o artista, otimismo mais que necessário nos dias de hoje.

 

Crítico de arte, é coordenador do curso de jornalismo da PUC-SP

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