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Série sobre seita fascina, apesar de descaso com informações

Documentário conta história do líder espiritual que criou cidade mística no Oregon

Cena de ‘Wild Wild Country’, série documental sobre a experiência do líder espiritual Osho (ao centro) nos EUA  Divulgação
Cena de ‘Wild Wild Country’, série documental sobre a experiência do líder espiritual Osho (ao centro) nos EUA - Divulgação
André Barcinski
São Paulo

Wild Wild Country

  • Onde Disponível na Netflix
  • Classificação 16 anos
  • Produção EUA, 2018
  • Direção Maclain Way e Chapman Way

A Netflix exibe uma das séries documentais mais estranhas e fascinantes dos últimos tempos: "Wild Wild Country".

Dividida em seis episódios de uma hora de duração, conta a história do líder espiritual indiano Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990), também conhecido por Osho, e a criação de uma cidade mística localizada numa região isolada no interior do Oregon, noroeste dos Estados Unidos.

Em 1981, depois de sair da Índia por suposta perseguição religiosa, Bhagwan chegou ao Oregon com cerca de 10 mil de seus seguidores, chamados rajneeshes. A multidão se estabeleceu numa imensa fazenda, comprada com a fortuna que Bhagwan acumulara com a venda de livros e doações de fiéis.

O lugar, batizado Rajneeshpuram, rapidamente tornou-se um modelo de cidade autossustentável: havia lavouras, criações de animais, escolas, laboratórios para fabricação de medicamentos, uma pista de pouso para os aviões de Bhagwan (ele tinha dois, além de 20 Rolls-Royce) e até uma represa que produzia a energia elétrica consumida na cidade.

Mas a chegada da turma de Bhagwan não foi bem vista pelos vizinhos: em Antelope, uma sonolenta vila de 95 habitantes, a presença de 10 mil fiéis que promoviam o amor livre e o naturismo causou uma ruptura na vida pacata da região.

Não ajudou o fato de que, três anos antes, o pastor Jim Jones liderara o suicídio de 918 pessoas em Jonestown, na Guiana. Para os moradores de Antelope, Bhagwan podia muito bem ser um novo Jim Jones.

A tensão entre os rajneeshes e os moradores da região aumentou: um hotel de propriedade de Bhagwan foi incendiado, e seus seguidores montaram uma milícia armada de fuzis e metralhadoras.

A situação ficou ainda mais tensa depois que um surto de salmonelose, supostamente provocado pelos rajneeshes, mandou para o hospital mais de 700 moradores de uma cidade próxima a Rajneeshpuran.

"Wild Wild Country" entrevista alguns dos personagens mais importantes dos dois lados do conflito: antigos moradores de Antelope relatam os anos de pesadelo que passaram lutando contra a presença dos rajneeshes, enquanto esses dizem ter sofrido perseguição dos habitantes locais.

A personagem mais fascinante de toda a história é a secretária pessoal de Bhagwan, uma indiana carismática, inteligente e arrogante chamada Ma Anand Sheela, que comandava Rajneeshpuram com a mão firme de um general.

"Wild Wild Country" conta uma história tão interessante que é fácil esquecer alguns defeitos da série, como um certo descaso com a acuidade de informações (alguns detalhes da trama simplesmente não são explicados) e depoimentos que, por vezes, repetem informações de outros.

No fim, a impressão é de que os seis episódios poderiam muito bem ser condensados em quatro, sem prejuízo da história e com uma narrativa mais fluida. Mesmo assim, é uma série que merece ser vista.

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