Descrição de chapéu
Cinema

'A Amante' traça paralelo entre drama pessoal e Primavera Árabe

Sem carregar nas tintas, primeiro longa de tunisiano mostra quadrinista introspetivo

cena do filme a amante
Hedi (o ator Majd Mastoura) e Rym ( Rym Ben Messaoud) em cena de 'A Amante' - Divulgação
Alexandre Agabiti Fernandez

A Amante (Hedi)

  • Quando Estreia na quinta (31)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Majd Mastoura, Rym Ben Messaoud, Sabah Bouzouita
  • Produção Tunísia, Bélgica, França, 2016
  • Direção Mohamed Ben Attia

Veja salas e horários de exibição.

Produzido pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, este primeiro longa-metragem do tunisiano Mohamed Ben Attia compartilha a estética humanista dos filmes da dupla de realizadores belgas.

Os gestos e comportamentos dos personagens estão no centro da representação com o propósito de captar sua condição, invariavelmente disfuncional.

A figura central aqui é Hedi (Majd Mastoura), 25 anos, nascido em uma família relativamente abastada, que trabalha sem nenhum entusiasmo como representante comercial de uma grande fabricante de automóveis.

O rapaz está prestes a se submeter às velhas tradições sociais, casando-se com uma jovem que mal conhece. O jogo facial de Mastoura caracteriza perfeitamente a introversão e a angústia do personagem, dominado com mão de ferro pela mãe viúva (Sabah Bouzouita), que acredita estar fazendo o melhor para ele.

O enquadramento enfatiza o sofrimento interior de Hedi, pois a câmera o segue bem de perto, reduzindo o espaço, o que amplia a sensação de reclusão. As cenas em que se encontra clandestinamente com a noiva dentro do carro —outro espaço limitado— reiteram esse sufocamento.

O lacônico Hedi só tem satisfação quando desenha histórias em quadrinhos. É “artista como o pai”, nas palavras da mãe ao apresentá-lo à família da noiva.

Mas o desenho —espaço de expressão pessoal em uma vida cinza e programada por terceiros— é um exercício solitário que não rompe a reclusão, pois as histórias em quadrinhos ficam trancadas em um armário.

Um dia Hedi é obrigado a viajar a trabalho para uma cidade costeira. No hotel, conhece Rim (Rym Ben Messaoud), uma dançarina que se apresenta para os hóspedes.

Assim como a praia diante do hotel é um espaço vasto que conota liberdade e se contrapõe ao enclausuramento de Hedi, Rim –independente e espontânea— condensa ideais semelhantes como desejo e emancipação.

Hedi se apaixona por ela, que o incentiva a publicar suas HQs. Ele encara isso como um sonho, pois não sabe como realizá-lo; para ela é um projeto —o que explicita as diferenças entre ambos.

Ao mesmo tempo, e sem carregar nas tintas, o filme estabelece um paralelo entre as potencialidades da Primavera Árabe –que começou exatamente na Tunísia—, desejo de libertação de um país, e a autodescoberta de Hedi, que reflete sobre seu destino e também pode se libertar, abrindo-se às possibilidades do mundo— dois processos que carregam seu respectivo quinhão de agruras.

Sem fazer concessões à facilidade, o desfecho impregnado de resignação aponta para os limites de Hedi, tão impotente quanto a decadente sociedade à qual pertence.

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