Descrição de chapéu Cinema festival de cannes

Drama sobre menino pobre que processa os pais embola disputa em Cannes

'Capharnaüm', da libanesa Nadine Labaki, tem tudo para agradar o júri e levar a Palma de Ouro

O compositor Khaled Mouzanar, a diretora Nadine Labaki e os atores Zain Al Rafeea e Yordanos Shiferaw, de 'Capharnaüm' - Vianney Le Caer/Invision/Associated Press
 
Guilherme Genestreti
Cannes (França)

As primeiras cenas do longa “Capharnaüm”, da libanesa Nadine Labaki, mostram um garoto mirrado conduzido por algemas num presídio sujo e superlotado.

Diante do juiz, ele não sabe dizer quantos anos tem (nunca foi registrado), mas é enfático ao responder por que deseja mover um processo contra seus próprios pais. “Porque me deram a vida”, responde.

Começa aí um drama social carregado de cenas de miséria e sentimentalismo embalado por trilha sonora tocante que tem tudo para agradar o júri desta edição do Festival de Cannes e levar a Palma de Ouro.

Isso se os jurados se deixarem levar por esse filme cuidadosamente construído para arrancar lágrimas. A atriz e diretora Nadine Labaki faz aqui um típico “favela movie”, mas com selo libanês.

Zain (papel do novato Zain Alrafeea) é um garoto na casa dos 12, 13 anos que vive com a família semimiserável num cortiço em Beirute. O pai está preso e a mãe obriga que os vários filhos pequenos se virem vendendo sucos nas ruas. E são ruas perigosas: os adultos com os quais as crianças esbarram sempre querem tirar uma vantagem, às vezes, querem tirar mais do que isso.

Dotado de uma lucidez fora do comum, Zain atua como uma espécie de figura paternal entre seus irmãos mais novos porque sabe que, no depender da mãe, eles podem ficar dias sem comida no prato.

O que irrompe o conflito é uma cena que ilustra muito bem a forma com que Labaki quer manipular as emoções do espectador. Após ter sua primeira menstruação, a irmã preferida de Zain é rifada pelos próprios pais para se casar com um homem mais velho e com algum dinheiro.

Cenas assim, de enorme apelo sentimental, empilham a narrativa, toda calcada na via-crúcis de Zain. O encontro com uma imigrante etíope e seu filho bebê só vão tornar os sofrimentos ainda mais agudos.  

O anúncio do vencedor em Cannes sai no sábado (19).

O jornalista se hospeda a convite do festival


 

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