Descrição de chapéu
Gilberto Gil mpb

Gil e Carminho unem marcha de Portugal e frevo de Pernambuco

Músicos fizeram festa para a língua portuguesa em show na Sala São Paulo

Naief Haddad
São Paulo

Show Letras de Luz

  • Onde Sala São Paulo - Pça. Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos.

“Flor do Lácio Sambódromo / Lusamérica latim em pó / O que quer / O que pode / esta língua?”
“Língua”, de Caetano Veloso, foi interpretada pela cantora Vanessa Moreno logo no início do show “Letras de Luz”, na noite deste sábado, dia 5, na Sala São Paulo.

Com Gilberto Gil, a cantora portuguesa Carminho, a Orquestra de Câmara da USP, além de Vanessa, a apresentação musical homenageou a língua portuguesa, cujo dia se celebra em 5 de maio. O evento foi organizado pela Embaixada do Brasil em Portugal e pela empresa portuguesa EDP.

Ora em solo, ora em duo, Gil e Carminho mostraram na Sala São Paulo praticamente lotada o que pode, afinal, esta língua.

O repertório do compositor foi escolhido para, entre outros objetivos, realçar a força poética do idioma. Ele entrou no palco quando Vanessa cantava “Expresso 2222”, um clássico tropicalista em que Gil brinca com o som e o sentido, em meio a referências cinematográficas.

Em seguida, ele interpretou “Marginália 2”, uma parceria com Torquato Neto. Para uma plateia formada por brasileiros e portugueses, Gil lembrava versos como “tropical melancolia / negra solidão”.

Mas havia um descompasso. Como cantor, Gil não demonstrava vigor à altura da potência lírica de suas músicas, o que é compreensível para um artista de 75 anos, que passou por uma série de internações em 2016.

No entanto, tudo começou a mudar quando Gil e Carminho se juntaram em “Drão”. A cantora de apenas 33 anos, nova diva da música portuguesa, parecia dar de presente a Gil o entusiasmo que faltava ao cantor até então e, assim, fazia sua homenagem a ele.

Embora seu repertório vá além dos fados, Carminho preferiu se concentrar na música tradicional portuguesa. Cantou as belas “Nas Pedras da Minha Rua”, “Malva Rosa” e “Escrevi Teu Nome no Vento”.

Entre uma música e outra, ela agradeceu à Orquestra da USP, sob regência do maestro Gil Jardim. “O fado é a música mais anárquica que existe. Cada um entra quando quer”, disse ela, indicando a sintonia estabelecida entre os músicos como um contraponto positivo à suposta desordem fadista.

Daí em diante, houve uma sequência de momentos notáveis. Carminho interpretou “Saudades do Brasil em Portugal”, canção de Vinicius de Moraes com trechos como “Sempre que ouvires um lamento / Crescer desolador na voz do vento / Sou eu em solidão pensando em ti”.

Gil foi muito aplaudido depois de “Se Eu Quiser Falar com Deus” e “Domingo no Parque”, músicas que ele tem conseguido reinventar a cada nova interpretação.

Mas o ápice da apresentação estava por vir. “Vamos nos despedir com uma marchinha portuguesa”, anunciou Gil. Começaram a cantar a divertida “Marcha de Alfama”, com um ritmo que se assemelha ao do frevo de Pernambuco.

Natural que Carminho estivesse à vontade, já que a música integra seu repertório. Já Gil surpreendia ao cantá-la alegremente, esboçando passos de dança –era definitivamente outro intérprete quando comparado ao Gil do início do show.

Por duas horas, Brasil e Portugal estiveram juntos, em festa. Graças à música e, claro, à língua portuguesa.

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Folhapress

 

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