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O sexto longa-metragem do canadense Kim Nguyen —diretor e roteirista ainda pouco conhecido no Brasil, cujos filmes abordam as relações humanas— fala de uma questão contemporânea por excelência: a ubiquidade da tecnologia da informação na vida das pessoas, que produz solidão e angústia.
Gordon (Joe Cole) trabalha em uma empresa de vigilância que monitora tudo o que acontece ao redor de um oleoduto próximo de uma aldeia no norte da África. Sua tarefa é realizada muito longe dali, em Detroit, de onde comanda um exército de robôs hexápodes, engenhoca de seis pernas equipada com câmera, microfone, alto-falante e programa de tradução, capaz de disparar tiros em eventuais ladrões.
Uma noite, Gordon repara em Ayusha (Lina El Arabi), uma jovem que se encontra com o namorado (Faycal Zeglat) em uma colina do deserto. Curioso, e talvez desconfiado, Gordon passa a segui-la. Descobre que ela está condenada a um casamento arranjado com um homem bem mais velho e que por isso quer fugir do país com o namorado.
Abatido por uma desilusão amorosa, Gordon se apaixona platonicamente por Ayusha e decide ajudá-la na fuga. Um improvável melodrama se instala —baseado no voyeurismo e na mediação de uma máquina—, em meio a outras questões contemporâneas como a imigração ilegal, a obsessão global pela segurança, a exploração predatória das riquezas naturais pelos países ricos.
Essa história de amor ingênua e assimétrica que evolui em um contexto complexo, mas pouco desenvolvido pelo roteiro, no qual a tragédia espreita, nunca convence. Há diálogos em demasia, uma tentativa de esclarecer o que a história e as imagens são incapazes de criar.
O insistente apelo à —ótima— trilha sonora do grupo canadense Timber Timbre obedece ao mesmo tipo de limitação: é uma facilidade para tentar estabelecer um clima que a narrativa não consegue impor.
As relações da Ayusha com os pais também são pouco trabalhadas. A caracterização família não vai além dos sempiternos clichês em torno do tradicionalismo e do autoritarismo. A jovem fala inglês —algo no mínimo surpreendente em uma aldeia perdida—, trabalha em um cybercafé, ganha um salário que lhe poderia garantir alguma autonomia, o que permite supor que seus pais não sejam tão obtusos.
Os melhores momentos são os em que brilha a ironia, sobretudo na cena em que o robô ajuda um homem cego perdido nos arredores da aldeia —quando conversam sobre mulheres e este pensa que a máquina é uma pessoa— e quando o chefe de Gordon o adverte para que relate mais ameaças perto do oleoduto com uma justificativa lapidar: “Ameaças são a alma do nosso negócio”, “sem inimigos não há emprego neste país”.
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