Descrição de chapéu Televisão series

Série 'Os Irmãos Freitas' contará história do boxeador Popó e de Luís Cláudio, seu irmão

Programa é idealizado por Walter Salles e Sérgio Machado e estreia ano que vem

João Pedro Pitombo
Salvador

Num ginásio mambembe da pequena Milagres, município do interior da Bahia, o lutador desfere uma série de socos e manda à lona seu adversário. Mas seu oponente era figura importante, enteado do prefeito da cidade, com toda a torcida a seu favor. O vencedor deixa a cidade às pressas. Escarreirado, como diriam em típico baianês.

O nocaute é um dos primeiros passos do filho ilustre da família Freitas em sua trajetória no boxe. Seu nome: Luís Cláudio, irmão mais velho de Acelino, aquele que anos depois se sagraria tetracampeão mundial de boxe.

“Os Irmãos Freitas”, série em oito capítulos com estreia prevista para 2019 no canal Space, segue trajetória distinta das tramas sobre heróis do esporte e alça a família de Acelino Popó Freitas à condição de protagonista da história.

A trama conhecida do menino pobre da Bahia que ganhou o mundo e se tornou Popó, o Mão de Pedra, ganha novas camadas com a história de ascensão e queda de seu irmão Luís Cláudio e com a batalha diária de Zuleica, mãe dos dois boxeadores.

“Vejo essa história como uma tragédia grega, que fala de oportunidade, de solidariedade entre dois irmãos. É uma história universal ambientada no universo do boxe da Bahia”, resume o diretor Sérgio Machado, um dos idealizadores da série feita pelas produtoras Gullane e VideoFilmes.

A Folha visitou o set  durante a gravação de cenas da série em Salvador, onde foram reconstituídas partes da história dos dois irmãos, em cenários como o Farol da Barra e o bairro da Baixa de Quintas, onde ambos cresceram.

Popó, que acompanhou as gravações das cenas na Bahia, recebeu a equipe da produção para uma feijoada em sua casa e treinou com o ator Daniel Rocha, que o interpreta na trama. Diz ter aprovado as cenas que viu até o momento, inclusive as de luta.

“Estou alegre porque botaram um cara bonito para me representar”, brinca o lutador baiano, para em seguida destacar a trajetória de superação dele e da família por meio do boxe. “Quem me conhece sabe que a minha luta não foi só no ringue.”

Menos acostumado aos holofotes, Luís Cláudio emociona-se ao revisitar a sua própria história. Lembra de seus primeiros passos no boxe, quando não tinha um tênis para treinar e percorria descalço os seis quilômetros entre sua casa e a academia. E fala da sua trajetória no boxe, encerrada sem a atingir a título mundial.

Tal qual a história dos irmãos Freitas, o projeto de transpor a trajetória dos boxeadores para as telas também revelou-se uma corrida de obstáculos.

A ideia de contar a história de Popó veio do cineasta Walter Salles, que assina a supervisão artística da série. 

Inicialmente, a ideia era fazer um longa-metragem. Ao trabalhar o roteiro, Sérgio Machado, que assina a direção com Aly Muritiba, viu-se diante do desafio de condensar em duas horas a trajetória dos dois irmãos.

Em determinado momento, viu que a história simplesmente não cabia em um filme. 

Ao todo, foram cinco anos de desenvolvimento do roteiro até chegar ao seu formato final, feito em parceria por Machado, George Walker e Pedro Perazzo.

O desafio seguinte foi o casting dos atores. Retomando uma fórmula usada por Salles e Machado no filme “Central do Brasil” (1998), dezenas de atores foram testados para cada papel —do protagonista a treinadores cubanos e pugilistas mexicanos.

Daniel Rocha, escolhido para representar Popó, trazia em sua bagagem uma experiência de atleta infantil de kickboxing.

Foi dele a ideia de gravar uma das cenas mais marcantes da série: uma desidratação semelhante à que os boxeadores fazem antes da pesagem para as lutas. A cena mostra Popó treinando por horas dentro de uma sauna, de onde sai esquálido, babando e chorando. Daniel perdeu quatro quilos em um dia.

Já Rômulo Braga, que interpreta Luís Cláudio, não tinha experiência com lutas e teve um desafio a mais para encarnar o boxeador: “Fui tentar aprender o básico para fazer uma coreografia e responder à altura. Mas é muito difícil. É uma coordenação, uma inteligência que parece coisa de outro mundo”, diz.

O diretor Aly Muritiba destaca o envolvimento da comunidade do boxe no projeto. Além de aconselhar e treinar os atores e a equipe, os profissionais do boxe também atuam na série.

“Nas cenas de luta, o árbitro é um árbitro, o treinador é um treinador e os lutadores são lutadores mesmo”.

Com quatro meses de gravações, a série está na reta final e, em breve, entra em fase de edição. O resultado tem empolgado a equipe: “Estou com a sensação que estamos fazendo uma coisa muito especial”, afirma Sérgio Machado.

Ele lembra de uma cena específica que levou toda a equipe às lágrimas. Nela, Luís Claudio, irmão de Popó, questiona o porquê do incômodo daqueles “que têm tanto” diante do avanço daqueles “que têm tão pouquinho”. Diz saber o seu valor, mas reclama da falta de oportunidades.

“Foi um desabafo sobre um monte de coisa que está acontecendo no país. Ele está falando dele, mas também está falando do Brasil”, diz o diretor.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.