Descrição de chapéu

'A Morte de Stalin' conta uma história não raro escabrosa de maneira agradável

Atores precisam se esforçar para deixar claro que longa de Armando Iannucci se trata de comédia

A Morte de Stalin

  • Quando Estreia nesta quinta (7)
  • Elenco Steve Buscemi, Simon Russell Beale, Jeffrey Tambor
  • Produção Reino Unido/França/Bélgica/Canadá, 2017
  • Direção Armando Iannucci

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“A Morte de Stalin” é uma comédia, mas é improvável que muita gente se dê conta disso. 

Primeiro, porque para entendê-la é preciso estar ao menos um pouco a par de uma história já distante; segundo porque, sendo um filme britânico, e portanto de humor britânico, tradicionalmente sutil, só percebemos que se trata de uma comédia quando já se passou um terço de filme.

É verdade que, no início, Kruschev descreve, aos risos, como matava alemães presos após a batalha de Stalingrado. 

Mas como saber a diferença entre a comédia e o drama se a propaganda da Guerra Fria ensinou que os comunistas russos não passavam de um bando frios de assassinos e, pior, o que aprendemos antes e depois, nos ensina que isso era quase sempre verdade?

A isso segue-se o inesperado: a morte de Stalin. O chefe que mantinha unidos pelo terror esses personagens que compunham sua corte e, em princípio, se odiavam: Beria, Kruschev, Molotov, Malenkov etc. Inicia-se uma luta pelo poder que, em outros tempos, poderia muito bem inspirar uma tragédia shakespeariana.

Quem chegou mais perto disso, diga-se, foi Eisenstein, ainda que de maneira alegórica, na segunda parte do formidável “Ivan, o Terrível”. Mas havia dois problemas ali: 1. Stálin ainda era vivo, nos anos 1940; 2. por ser vivo e nada bobo proibiu a exibição da segunda parte (que só sairia em 1958).

A opção de Armando Iannucci foi pela comédia. E o momento é perfeito para o humor (negro, claro).
Falta ao diretor escocês o toque de Lubitsch (“Ser ou Não Ser”) ou o gênio de Chaplin (“O Grande Ditador”), que fizeram obras-primas a partir de situações políticas.

Se não fosse o esforço de certos atores, em especial Steve Buscemi (um notável Kruschev), talvez não desse nem para perceber que se trata de uma comédia. “A Morte de Stalin” não dá nem para lamber as botas das grandes comédias.

Iannucci consegue equilibrar-se razoavelmente entre as necessidades do cômico numa situação dramática e pontuada por monstruosidades. 

Não é pouco, se se considerar o quanto de pegajosamente sem ambições tem sido a média da produção europeia atual (desconsideradas as exceções). O que “A Morte de Stalin” traz é uma maneira de contar uma história não raro escabrosa de maneira agradável: é mais do que nada.

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