O festival de documentários musicais In-Edit, que acontece na cidade de São Paulo, traz filmes sobre nomes conhecidos da música, como George Michael, Grace Jones, Ultraje a Rigor, Lynyrd Skynyrd e outros. 

Mas um dos destaques é um filme sobre um compositor praticamente desconhecido fora da Tunísia: Hedi Jouini.

“The Man Behind the Microphone”, dirigido pela neta de Jouini, a cineasta Claire Belhassine, conta a história de Jouini (1909-1990), um cantor, compositor, autor de musicais e ator em diversos filmes, que até hoje é reverenciado como um popstar na Tunísia e chamado de “o Frank Sinatra tunisiano”.

Além de revelar a trajetória de Jouini, o filme é um comovente relato familiar. O pai de Claire, Ferid, abandonou a família nos anos 1960 e foi para Londres, onde se casou. Ferid levava Claire para passar as férias em Túnis, capital da Tunísia, onde ela teve contato com o avô, sem entender que ele era um astro da música.

Depois da morte de Hedi, a família brigou, e Claire não voltou mais à Tunísia. Certo dia, andando de táxi em Paris, ouviu uma música bonita no rádio, perguntou ao taxista de quem era a voz aveludada que interpretava a canção, e ficou surpresa ao descobrir que a voz era do avô, Hedi.

A cineasta decide então retornar a Túnis para contar a história de seu avô e tentar entender por quais razões o pai escondera dela essa parte da saga familiar. 

O filme deixa de ser apenas o relato jornalístico da trajetória musical de Hedi Jouini e vira uma bonita e triste história sobre a fragmentação de uma família, motivada principalmente por razões religiosas —Hedi era muçulmano, e a esposa, a cantora Widad, judia. 

O documentário mostra que o espectador não precisa conhecer um determinado gênero musical para ser envolvido emocionalmente por um filme sobre ele. 

A música de Hedi Jouini é um espanto de beleza, mas sua história é igualmente fascinante. “The Man Behind the Microphone” é o tipo de filme que nos faz querer conhecer outras culturas e outros sons.