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Jabuti é criticado por mudanças, e curador polemiza com autores

Resposta irônica de Luiz Armando Bagolin a contestação a prêmio gerou acusações de homofobia

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Luiz Armando Bagolin respondeu de forma irônica a críticas ao Jabuti - Greg Salibian/Folhapress
Mariana Vick
São Paulo

​Discordâncias a respeito de mudanças recentes no Prêmio Jabuti levaram o curador da premiação, Luiz Armando Bagolin, a participar de discussão nas redes sociais com o autor e ilustrador Roger Mello e o promotor cultural Volnei Canônica, conhecido por sua atuação na literatura infantil e juvenil.

Na terça (12), em resposta a coluna publicada por Canônica no site Publishnews, Bagolin escreveu que o autor “surfava ao sabor das próprias opiniões” e pedia a readmissão das categorias de ilustração infantil e juvenil no prêmio por “defesa indefectível de seu amor”.

Canônica e Mello são casados. Eles disseram que a referência a seu relacionamento foi homofóbica. Os dois tiveram apoio de outros membros da cena infantojuvenil, que já vinham protestando contra o Jabuti desde a divulgação das novas regras, em maio.

Bagolin diz que respeita o trabalho dos profissionais e rejeitou a acusação de homofobia. “Na minha opinião, ele [Volnei] fez isso [o texto] por interesses pessoais."

Ilustrador Roger Mello na cerimônia do 58º Prêmio Jabuti.
Roger Mello é um dos artistas que se manifestam contra a fusão de literatura infantil e juvenil em uma só categoria no Prêmio Jabuti - Bruno Poletti/Folhapress

Prometendo ser mais enxuto, o troféu reduziu suas 29 categorias a 18 —o que incluiu a fusão de obras infantis em juvenis em um grupo só. As duas categorias de ilustração para cada uma das áreas também viraram uma, que não é específica para obras voltadas a jovens e crianças. Agora, infantis e juvenis concorrem nesse ponto com outros tipos de livros.

Para artistas, pesquisadores e organizações do segmento ouvidos pela Folha, o novo regulamento deixa de reconhecer a ilustração como linguagem independente da palavra e desvaloriza os livros voltados a crianças e adolescentes, que não poderiam ser comparados entre si.

“São diferentes livros para diferentes púbicos”, afirma Canônica.

“Enquanto a literatura para crianças é essencialmente imagética, os livros voltados a adolescentes introduzem diferentes gêneros literários e demandam repertório", acrescenta Cristiane Ruiz, editora da Intrínseca.

Procurada pela reportagem, a CBL (Câmara Brasileira do Livro), organização responsável pelo Jabuti, disse que o objetivo das mudanças é tornar o prêmio mais relevante, mas não respondeu às críticas.

A crítica publicada por Volnei nesta terça (12) veio após uma reunião com a CBL. No dia 9, representantes do prêmio se encontraram com membros da cena infantojuvenil em resposta a uma carta que pedia a revisão do regulamento. O documento tinha mais de 360 assinaturas.

“Dissemos que as demandas  da reunião seriam apresentadas ao conselho, mas ele [Volnei] se apressou [em escrever o artigo]”, afirma Bagolin.

Apesar de considerar o texto um ataque ao prêmio, o curador disse que ainda não há resposta sobre a revisão das regras e que a equipe do Jabuti está aberta ao debate.  

Artistas, escritores e especialistas que apoiam Canônica e Mello criticam Bagolin pelo ataque pessoal ao casal. “Indica que há falta de diálogo e de argumento técnico para defender as mudanças”, afirma a professora e pesquisadora de literatura infantojuvenil Graça de Castro.

“Não é uma discussão pessoal, mas coletiva. Não é esse o Jabuti que queremos”, diz Roger Mello, acrescentando que pretende fazer, junto a colegas da área, novas críticas ao prêmio.

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