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música

'O Tom da Takai' é um disco muito bonito, porém certinho demais

Cantora recorre a músicas de Tom Jobim bem distantes da galeria de sucessos do maestro

Fernanda Takai, que lança álbum dedicado a canções de Tom Jobim (exclusiva Folha/Ilustrada)
Fernanda Takai, que lança álbum dedicado a canções de Tom Jobim - Weber de Pádua/Divulgação
THALES DE MENEZES

O Tom da Takai

  • Preço R$ 24,90
  • Gravadora Deck

“O Tom da Takai” é um disco muito bonito. A voz da cantora é afinada, redondinha, bem encaixada em um repertório poderoso, com arranjos de dois músicos que sabem tudo de bossa nova. Claro, eles ajudaram a inventar o gênero.

No entanto, falta alguma coisa para Fernanda Takai fazer a grande diferença em seu novo álbum fora da banda Pato Fu. Numa avaliação que pode provocar narizes torcidos, o disco transmite um pouco de frustração justamente por ser “certinho” demais.

Tom Jobim (1927-1994) é território seguro para abrigar projetos de intérpretes. A qualidade de suas canções até pode ajudar cantores não tão interessantes na conquista de um disco mais apurado, acima do que esses vocalistas costumam produzir.

Definitivamente, não é o caso de Fernanda Takai, que tem uma obra autoral de relevância, sozinha ou com o Pato Fu, e já emprestou seu jeito límpido de cantar para outros projetos, como o ótimo disco “Fundamental” (2012), que gravou com o ex-guitarrista do Police, Andy Summers.

Por isso, a expectativa para um trabalho dela com produção e arranjos de Roberto Menescal e Marcos Valle era imensa. Em seu primeiro álbum solo, “Onde Brilhem os Olhos Seus”, de 2007, já fincava bandeira na bossa nova, num disco dedicado ao repertório de Nara Leão (1942-1989).

Naquela oportunidade, o projeto teve momentos brilhantes, mas Fernanda não venceu totalmente a batalha de mostrar um desempenho imune às inevitáveis comparações com o estilo personalíssimo de Nara.

Em “O Tom da Takai”, a cantora recorre a uma seleção de músicas de Tom Jobim bem distante da habitual galeria de sucessos do maestro. “Estrada do Sol” e “Bonita” talvez sejam as mais conhecidas e potencialmente cantaroláveis nos futuros shows, mas, na totalidade, o álbum chega perto de um “lado B” de Tom Jobim.

Tem até “Só Saudade”, parceria de Tom com Newton Mendonça (1927-1960), lançada em disco por Cláudia Moreno em 1956. A canção nunca foi gravada por Jobim. Sua inclusão segue a diretriz clara do disco, que é privilegiar músicas mais antigas, dos anos 1950 e começo da década seguinte.

Esse corte do repertório mostra peças não tão complexas como as que Jobim apresentaria mais tarde. Fica exposto um panorama básico da típica canção bossa nova. E aí reside o incômodo que a audição do álbum pode passar.

Há uma sensação de repetição, as faixas soam como uma massa sonora que, embora delicada e elegante, parece uniforme, sem brilho.

É nas poucas canções mais animadas, como “Aula de Matemática/Discussão”, “Ai Quem Me Dera” e “Brigas Nunca Mais”, que o álbum apresenta seus melhores resultados. E na ótima versão de “Samba Torto”, diferente da bem-sucedida gravação de Sylvia Telles (1934-1966).

Ouvidas separadamente, as faixas de “O Tom da Takai” oferecem bons petiscos sonoros. Mas dedicar um tempo a uma audição completa pode cansar o ouvinte.

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