Uma comédia romântica musical sobre relacionamentos modernos. É assim que o filme "Ana e Vitória" se apresenta ao público, na intenção de atrair tanto os fãs das cantoras do hit "Trevo (Tu)" quanto aqueles que nem faziam ideia de que Anavitória não é uma pessoa só.
De fato, o longa-metragem de Matheus Souza vai além de remontar alguns passos do duo que saiu de Araguaína, no Tocantins, e conheceu o sucesso em 2015, após divulgar seus vídeos na internet e chamar a atenção do empresário de Tiago Iorc.
Essa trajetória serve como pano de fundo para um retrato descontraído, leve, contemporâneo e sem filtros sobre a juventude, montado com ingredientes da ficção e da vida real e embalado pelas canções estilo "pop folk" da dupla.
Ana gosta de meninas e meninos. Romântica e conquistadora, descobre um novo amor a cada dia e usa as paixões —e as decepções— como inspiração para escrever. Aparentemente, a música é uma das poucas certezas que tem.
Vitória ainda procura o seu lugar no mundo. Não sabe direito do que e de quem gosta e, por isso, não hesita em experimentar. Na busca por um relacionamento sem amarras, só quer gastar a camisinha no fundo da bolsa, prestes a perder a validade. Ou, talvez, ir para debaixo do lençol com uma mulher gata.
No papel delas mesmas, Ana Caetano e Vitória Falcão esbanjam carisma e espontaneidade. Engraçadas, alto-astral e afetivas, as meninas se complementam nas diferenças e formam uma parceria que extrapola suas qualidades vocais.
Também simbolizam uma geração hiperconectada, cheia de inquietações, incoerências e em constante mutação, que não tem medo de se aventurar.
Todo esse turbilhão chega aos espectadores com delicadeza e bom humor, a partir de um texto ágil, esperto e moderninho. Eis a grande sacada da produção: passear por temas controversos com muita naturalidade e sem fazer alarde. Simples como deveria ser.
Inseridas quase sempre à beira de uma "DR" (discutir a relação), as canções do duo ajudam a compor o tom doce e suave da narrativa sem comprometer seu ritmo. Um clima meio pé descalço, cabelo solto e roupa confortável.
Apesar do exagero de referências às redes sociais, o roteiro consegue aproveitar a onipresença dos smartphones e da conectividade de um jeito criativo. Em vários momentos, as telas se integram à trama e se tornam parte importante dela —tal como ocorre fora da ficção.
Mesmo para quem não acompanha o trabalho das meninas, "Ana e Vitória" se revela uma grata surpresa. Um filme que fala sem tabus sobre amores e liberdade de escolhas e, de quebra, conta a história de uma bonita amizade.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.