Cantora e compositora Julia Branco lança álbum visual dirigido por mulheres

Trabalho audiovisual reúne seis das 11 faixas do disco 'Soltar os Cavalos'

Victoria Azevedo
São Paulo

“Mais do que focar o som, pensei no que eu queria escrever. Tudo partiu da palavra”, explica a cantora e compositora mineira Julia Branco, 32, referindo-se ao seu debute solo, “Soltar os Cavalos”, que elaborou como se fosse um roteiro de teatro. 

A vontade de explorar uma linguagem expandida, com textos e imagens, e “desvirtuar os lugares comuns da música”, segundo ela, desembocou na criação de um álbum-vídeo com 6 das 11 canções do trabalho. O produto está disponível nas plataformas digitais desde sexta (27).

O patrocínio para esses dois projetos, além de uma turnê pelas capitais Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, foi concedido pelo programa Natura Musical.

A tendência de registros visuais na música ganhou mais força com o lançamento do elogiado “Lemonade” (2016), de Beyoncé. Por aqui, a paulistana Luiza Lian chamou atenção com “Oyá Tempo”, de 2017.

Conhecida por integrar a banda Todos os Caetanos do Mundo, a artista, que também é atriz, aproximou-se da música por conta do teatro. 

Ela foi incitada pelo produtor Chico Neves (que acumula no currículo trabalhos com O Rappa, Jorge Mautner e Los Hermanos, entre outros) a gravar suas letras e deixou de lado a timidez de se assumir enquanto compositora. 

Sonoramente, o trabalho reúne interferências eletrônicas, percussões, experimentalismos e pop —para ela, trata-se de um álbum de música brasileira. 

Suas maiores referências são Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes e Rita Lee (a faixa “Presta Atenção”, inclusive, é dedicada à cantora paulistana).

Como “inspiração grandiosa da vida”, espelha-se na islandesa Björk e em suas propostas de se arriscar e experimentar lugares novos. Daí, vem a ideia para o nome do álbum, que se utiliza da imagem da libertação dos cavalos para passar a ideia de romper amarras.

Essas quebras de padrões e expectativas são retratadas nas letras, que abordam temas do universo feminino, como a maternidade e padrões de beleza, sob a ótica do feminismo. 

Além disso, trata de questões do dia a dia, como a pressão de alcançar os 30 anos e a coragem de assumir suas fragilidades, sem negar seus próprios medos. Este último aspecto é retratado na canção-texto “Coisas”, que lista atividades que a artista não consegue fazer, como fumar, bordar e esconder a saudade.

Apesar de ser sua estreia como artista solo, ela reforça que se trata de um “solo com muitas aspas, que faz um convite à coletividade”. 

Com arranjos de Luiza Brina (Graveola), o CD tem participações de Letrux, Paulo Santos (Uakti) e Uyara Torrente (A Banda Mais Bonita da Cidade), entre outros.

Para o álbum visual, cercou-se de diretoras mulheres. Sara Lana (“Coisas”), Luísa Horta (“Sou Forte” e “Estrela”), Raquel Pinheiro (“30 Anos”), Samanta do Amaral (“Eu Sou Mulher”) e Julia Zakia (“Meu Corpo”) se revezaram não só na direção das canções, mas também em funções do projeto como um todo, como a direção de arte e fotografia.

“O roteiro que eu pensei era cheio de imagens. Queria expandir a linguagem e abrir para visões diferentes sobre as canções, como as outras pessoas poderiam imaginá-las em experiências visuais”, diz.

Para Branco, o CD abre para a dimensão da escuta. “Ele tem seus manifestos e seus gritos de poder pessoal, mas sem eliminar o que o outro tem a dizer. Ele abre para diferentes escutas e vozes”, explica.

 

Soltar os Cavalos
Disponível digitalmente desde sexta (27), o CD sai pela Natura Musical e tem distribuição da Tratore. A edição física estará à venda em 16/8 (R$ 20). 

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