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Crítico Mário Alves Coutinho disseca de forma apaixonada 'Um Corpo que Cai'

Autor associa referências ao filme de Hitchcock de maneira fluída, convidativa e provocante

Jimmy Stewart e Kim Novak em cena de 'Um Corpo que Cai' - Universal Studios/Associated Press
Sérgio Rizzo

Um Corpo que Cai: Alfred Hitchcock ou O Perverso e o Sublime

  • Preço R$ 49 (160 págs.)
  • Autor Mário Alves Coutinho
  • Editora Tipografia Musical

As formas espiraladas na abertura de “Um Corpo que Cai” (1958) são representativas de seu aspecto labiríntico, que envolve o protagonista (interpretado por James Stewart) e o espectador, vítima de teia complexa muito bem manipulada por Alfred Hitchcock.

O resultado é um filme que não termina, seja porque sua arquitetura respeite a ideia de “looping”, como se os seus atos se repetissem indefinidamente, seja porque os seus admiradores, enredados por múltiplas formas de tentar entendê-lo, não conseguem sair dele.

É o caso, confesso, do escritor, tradutor e crítico Mário Alves Coutinho. Em “Um Corpo que Cai: Alfred Hitchcock ou o Perverso e o Sublime”, ele retorna ao clássico de Hitchcock, que viu pela primeira vez aos 12 ou 13 anos.

“Desde então, já perdi a noção de quanto o revi —50, 60?”, diz na introdução ao livro. Não haverá quem duvide disso: seu mergulho no filme parece movido não só por interesse intelectual mas também por uma profunda paixão de espectador.

Sorte do leitor interessado em compreender mais do próprio cinema. A exemplo, entre tantos outros, dos ensaios de Laura Mulvey sobre “Cidadão Kane” e de Camille Paglia sobre “Os Pássaros” (ambos publicados pela Rocco), Coutinho expõe, na análise de um só longa, o que constitui essa arte industrial.

“Um Corpo que Cai” ganha do autor um exame de sequência por sequência e, dentro de cada uma, dos elementos de alguns planos. O procedimento é exemplar do que configura a crítica de cinema como, também ela, uma arte, ao lidar, criativa e verticalmente, com imagens e sons.

Não se usa aqui a expressão de forma gratuita. “Vertical” é um termo aparentado ao que sustenta boa parte dessa obra que, no original, chama-se “Vertigo”, ou vertigem —uma perturbação que, como assinala Coutinho, “aparentemente, começa com o olhar, atraído ou repelido por um ou mais objetos”.

Scottie, o personagem de Stewart, é um “homem que olha demais” ou, como propõe Coutinho, em alguns momentos “somente um olhar”, protagonizando uma história que também nos seduz, de um modo singular, porque somos todos, no cinema, “voyeurs”.

As dezenas de referências  —de críticos que se dedicaram a Hitchcock e a “Um Corpo que Cai”, como Robin Wood e David Thomson, a pensadores como Heráclito, Hegel, Freud, Walter Benjamin e Slavoj Zizek— são associadas ao filme sem que representem pedregulhos na leitura.

Ao contrário: o livro de Coutinho encontra paralelo com seu objeto de estudo na medida em que também se apresenta como leitura fluída, convidativa e provocante.

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