"Próxima Parada: Apocalipse" é o título engraçadinho encontrado pela Netflix para o lançamento no Brasil de mais uma de suas produções originais. O título original, mais sisudo, é "How It Ends" (como isto termina, em tradução livre). Muito mais adequado para um longa de sci-fi que passa longe do humor.

O fim do mundo é realmente angustiante nessa história de um jovem executivo que precisa atravessar os Estados Unidos para reencontrar a namorada grávida. Tarefa nada fácil porque boa parte da população foi dizimada numa catástrofe ainda sem explicações.

Não há mais energia nem comunicações. As pessoas desesperadas e armadas estão fugindo nas estradas ou entrincheiradas em suas propriedades, atirando na primeira coisa que aparecer.

Samantha está em Seattle, e Will, a negócios em Chicago, não consegue mais contato com ela depois dos inexplicáveis incidentes, numa provável cadeia global de tragédias. O pai da garota, ex-fuzileiro naval e herói de guerra, enfia o futuro genro num jipe e os dois caem na estrada para tentar encontrar a moça.

O que é oferecido a partir daí se encaixa num "road movie" apocalíptico. Como manda o figurino desse gênero, a dupla vai encontrar pelo caminho tipos violentos, situações de perigo e alguma ajuda de gente boa perdida pelas estradas. E ganham um reforço no time: Rick, uma garota que vive numa reserva indígena e sabe tudo de consertar carros e caminhões.

Em um único e breve momento, o filme esboça explorar a diversidade do trio. Um rapaz branco, um homem negro maduro e uma garota indígena é uma combinação não muito bem recebida pelos caipiras brancos e rudes que estão espalhados nas estradas. Mas logo a ação cai na simples alternância de apuros para os viajantes.

Embora nem um pouco original nessa configuração, o filme vai bem por uma grande parte da trama. E a dupla de atores que interpreta os protagonistas tem uma grande parcela nesse bom nível de entretenimento.

Theo James, o herói-galã da franquia juvenil de ficção científica "Divergente", convence como Will. Seu personagem deve passar da condição de jovem bem-nascido que sempre teve tudo fácil na vida para alguém que precisa aprender a matar para tentar sobreviver nesses que parecem ser os últimos dias da Terra.

Mas o filme talvez nem vingasse sem a figura sempre interessante de Forest Whitaker. O vencedor do Oscar por "O Último Rei da Escócia" (2006) tem aparecido mais em pequenos trabalhos em produções caras, como o recente "Pantera Negra", da Marvel.

Fisgado pelos ótimos cachês das produções da Netflix, volta a um papel extenso, atravessando todo o filme na tela e, mais do que isso, com um personagem que exige algum desgaste físico. E Whitaker dá ao ex-fuzileiro Tom as doses certas de amargura, retidão moral e bravura que o roteiro exige.

Se "Próxima Parada: Apocalipse" tem recebido avaliações não muito favoráveis nos sites de resenhas, a explicação é óbvia: depois de uma hora e meia de boa ação e trama angustiante sem muitas explicações, o filme gasta toda a sua parte final para deixar ganchos dramáticos que justifiquem uma possível continuação, ou até mesmo a transformação em uma série.

Não parece uma boa ideia. Uma vez só de fim do mundo já basta. 

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