Descrição de chapéu

'Hannah' vale pelo percurso narrativo que chega a desfecho quase inevitável

Longa de Andrea Pallaoro promove curiosa interação entre protagonista e ambientes hostis a ela

SÉRGIO ALPENDRE

Hannah

  • Quando Estreia nesta quinta (12)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Charlotte Rampling, André Wilms, Stéphanie Van Vyve
  • Produção Itália/França/Bélgica, 2017
  • Direção Andrea Pallaoro

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Segundo longa do diretor italiano Andrea Pallaoro, "Hannah" nos mostra, de maneira um tanto densa, a rotina de uma mulher idosa enquanto seu marido está na prisão.

Ela (vivida pela atriz inglesa Charlotte Rampling) ocupa os dias entre um curso de formação de atores, a faxina em um casarão de arquitetura moderna, a tentativa de comunicação com o filho que se afastou, cuidados com seu cão e uma vizinhança estranha.

E o filme é falado em francês. Temos então uma conexão entre Itália, França e Inglaterra (com a Bélgica na coprodução, pelas locações) —sem cara ou ponto definido, mas com uma estranheza derivada dessa confusão.

Temos em Rampling um problema inicial, pois demoramos um bocado para nos acostumarmos com a atriz nesse papel, no que parece ser um erro na escalação de elenco. Depois de um bom tempo, percebemos que ela está bem. Mas o risco de perder o espectador é grande.

Um segundo problema é a tendência que o diretor tem de elaborar imagens que só teriam algum interesse numa vídeoinstalação, como a que o menino ouve um radinho de ponta cabeça em um degrau da escada, numa espécie de contorcionismo corporal.

A relação da protagonista com crianças da vizinhança, aliás, é estranha, de um modo não muito positivo. Em uma noite trivial, meninos de seu prédio provocam uma pequena inundação com água cor de laranja, sem que se explique o que era a tal água e por que eles provocaram aquilo.

Cinema é, em grande parte, um jogo de mostra e esconde, com algumas passagens sendo apenas subentendidas pelo espectador, que, no entanto, recebe certas informações visuais que permitem o entendimento, parcial ou não, de uma dada situação.

Mas determinadas coisas não podem ser simplesmente lançadas a esmo. Fica falso, artificial demais dentro de um registro que pede uma outra postura, um realismo tingido pelo estranhamento de uma condição desfavorável. Essa falha estrutural não condiz com o rigor formal em que o filme se fecha.

Por outro lado, o espelhamento entre a relação dela com o filho cego da patroa e a impossibilidade da relação com o neto promove algumas belas cenas, como aquela em que o primeiro pede que ela lhe coce a cabeça, ou uma outra em que ela observa o segundo num recreio na escola.

Há ainda alguns momentos interessantes em que a câmera de Pallaoro parece interessada em situar bem a protagonista dentro de espaços específicos (a piscina, o vestiário, o corredor do prédio, a rua), promovendo uma curiosa interação entre a personagem e o ambiente que lhe é parcialmente hostil.

Vale ver "Hannah" sobretudo pelo percurso narrativo que nos leva decididamente a um desfecho quase inevitável. É quando o filme permanece e dele se retém alguma beleza, retroativamente.

 
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