Mostra propõe reflexão sobre a potência poética da letra no Instituto Tomie Ohtake

Mostra 'A Letra É a Traça da Letra' expõe obras da artista plástica Helena Trindade até agosto

Isabella Menon
São Paulo

Ao caminhar pelo Rio de Janeiro, a artista plástica e arquiteta Helena Trindade, 57, deu de cara com uma loja. Na fachada do estabelecimento repousavam, em azul, as letras: “A, M, O, R”. As restantes, que completariam o nome funcional da loja, que vende amortecedores, tinham caído.


A inusitada situação está retratada na videoinstalação “Afastamento”, que compõe a mostra “A Letra É a Traça da Letra”, exposta no instituto Tomie Ohtake desde o início de julho até o dia 19 de agosto. Sob curadoria de Glória Ferreira, a mostra estava, no início deste ano, no centro histórico Paço Imperial, no Rio.


As instalações da artista contemporânea têm um elemento em comum: a letra. Unidade do alfabeto e material de construção das palavras, o elemento é onipresente no trabalho de Trindade. 


A artista diz, em entrevista à Folha, que esse uso é uma “instância poética e um pré-texto para um jogo poético”.


Isso porque, diz ela, a letra dá abertura para a construção. Além disso, é ela a responsável pelas palavras, textos e poemas que existem, existiram e existirão. 


Segundo a artista, o nome da mostra faz uma paródia à famosa frase “o homem é lobo do homem”, de Thomas Hobbes. “Tudo que a letra constrói é o resultado de algo que foi destruído”, diz a artista.
A mostra é composta por instalações —todas elas conversam entre si.

Exposição 'A Letra É a Traça da Letra' de Helena Trindade
Exposição 'A Letra É a Traça da Letra' de Helena Trindade - Divulgação

A primeira que surge, inspirada em Lacan, é “(a)MURO”, em que dois muros são (des) construídos a partir de estênceis de letras. 


No chão, há a interligação dos chamados “Vírus”, esculturas que se assemelham a uma centopeia, feitas de teclas de máquinas de escrever. 


A artista afirma que “Vírus” dialoga diretamente com o muro. Como se as pequenas estruturas destruíssem o muro das linguagens. “A linguagem é um vírus”, diz Trindade. Para ela, isso faz alegoria à “destruição deste mundo”.


Na frente, uma bancada em formato de “S”, denominado “Medida de Todas as Coisas” conta com 22 pequenos objetos —em algumas é permitida a intervenção.


Uma dessas pequenas estruturas é “Cartas à Lygia”, formada por estênceis de letras maleáveis que se assemelham à obra “Bichos”, de Lygia Clark. A proposta ali é que sejam construídas cartas à artista plástica morta em 1988.


Em uma das poucas obras não tridimensionais da mostra, “Alfabeto Traço” reúne fotografias da sobreposição dos desenhos de todas as letras do alfabetos, feitos pela ampliação dos estênceis da instalação “(a)MURO”. 


A Letra É a Traça da Letra 
Instituto Tomie Ohtake, av. Faria Lima, 201; tel. (11) 2245 -1900. Até 19/8. Ter. a dom. das 11h às 20h 

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