Descrição de chapéu

Rapper Wiz Khalifa explora brisas suaves em um disco solar

Lançado há duas semanas, 'Rolling Papers 2' é o sexto álbum da carreira do artista

Lulie Macedo

'Rolling Papers 2', de Wiz Khalifa.

  • Onde Disponível nas plataformas de streaming
  • Gravadora Warner Music.

Se existisse um gênero oficialmente batizado de lounge hip-hop, o sexto álbum de Wiz Khalifa, lançado há duas semanas, se encaixaria perfeitamente. 

Não porque em “Rolling Papers 2” ele faça som ambiente. Mas porque é tudo tão suave, melódico, confortável e redondinho que os 90 minutos das 25 faixas deslizam como cobertura quente de chocolate sobre um sorvete de casquinha.

Essa imagem não é gratuita porque: 1) esse é um disco de maconheiro para pessoas que gostam de maconha (rolling paper é, literalmente, papel para bolar —essa é a temática principal de Khalifa, desde sempre); 2) é um álbum inteiro solar (funciona no nosso veranico aqui, mas sobretudo no verão norte-americano, carente de um pouco de escapismo); e 3) sorvete e calda seriam uma larica eficiente nesse contexto.

Se os beats são superbem desenhados pelas mãos de produtores como Mike Will Made-It (parceiro de Kendrick Lamar) e o lendário Easy Mo Bee (responsável por pérolas de Notorious B.I.G. e pelo disco de estreia de Alicia Keys), a ideia (ou a lírica) não é exatamente o forte de Khalifa. Os temas de seus versos permanecem os mesmos: minas, maconha, grana, bebida. 

Wiz Khalifa no Lollapalooza, em março deste ano; rapper lançou recentemente ‘Rolling Papers 2’ - Bruno Santos/Folhapress

Amigo e discípulo de Snoop Dogg, que aparece na faixa “Penthhouse”, o rapper de Pittsburgh também não se arrisca muito no flow (estilo ou maneira de rimar). As críticas negativas que o disco recebeu apontam exatamente para esses aspectos, a repetição e a falta de surpresa estética e temática.

O fato é, queiram os comentaristas do rap ou não, Khalifa estreou em segundo lugar na Billboard, atrás apenas de Drake. Muito desse excelente resultado comercial não é fruto apenas da música. 

Assim como outros artistas do rap mainstream atual, Khalifa é uma marca, e ele sabe trabalhar isso como ninguém —inclusive se lançando em polêmicas estúpidas, como quando disse, dias atrás, que “homens héteros não comem bananas inteiras, eles quebram a fruta ao meio”.

Não faria tanto sentido esperar mais de Khalifa se outros grandes do rap, como Kendrick Lamar e até mesmo Kanye West, não estivessem explorando outros caminhos em suas letras e trabalhando em seus rhyme schemes (métrica).

Voltando-se para questões pessoais, muitas vezes problemáticas e dolorosas, esses MCs parecem mais conectados com uma parcela do rap que não se satisfaz mais com o tripé mulher/balada/dinheiro. Até porque eles todos são o mainstream agora.

Cantar esse tipo de conquista (a do tripé) quando se está margeando a indústria é uma coisa. Comandar a indústria e permanecer nessa onda, cansa. 

Se até aqui parecer que não vale a pena dar play nesse disco —sequência de um álbum de 2011—, esta crítica estará sendo injusta. É um álbum divertido, dançante, ótimo para começos de festa e, de novo, de tão relax, funciona da faxina na casa num fim de semana aos fones durante o trabalho. E isso não é ruim.

Para os fãs de rap, os fãs mesmo, a reação talvez fique mais perto de um “ah, tá”. Para quem só quer uma brisa boa e se divertir sem pensar demais, é perfeito.

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