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Stephen King apresenta trama detetivesca com ar sobrenatural

Livro 'Outsider' vai ao encontro do escritor barra-pesada dos anos 1970 e 1980

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O escritor americano Stephen King - Evan Agostini/Invision/AP

Outsider

  • Preço R$ 59,90 (526 págs.)
  • Autoria Stephen King
  • Editora Suma
  • Tradução Regiane Winarski

O escritor americano Stephen King é generoso com seus fãs. Aos 70 anos, segue lançando um livro atrás do outro, e consegue manter um padrão de qualidade surpreendente diante de tamanha produção. "Outsider", seu romance mais recente, deve agradar. E, definitivamente, não se trata de repetir fórmulas.

Uma fatia de seus admiradores pode reclamar por ele ter deixado de lado o terror mais violento, às vezes grotesco, para dirigir seu foco a narrativas policiais, teorias de conspiração e aventuras em tom de fábula.

Nos últimos anos, suas obras mais celebradas formam a chamada trilogia Bill Hodges. Os romances "Mr. Mercedes" (2016), "Achados e Perdidos" (2016) e "Último Turno" (2016) exibiram casos investigados pelo detetive aposentado Bill Hodges.

Depois de mais de uma centena de livros, King cedeu àquilo que os escritores do filão policial mais gostam: criar um personagem fixo, seu Sherlock Holmes particular.

Depois do delírio fantástico de "Belas Adormecidas", parceria com o filho Owen King publicada no ano passado, as primeiras páginas de "Outsider" podem indicar que o autor continua investindo na trama policial. Até um novo "herói" parece estar sendo formado, o detetive Ralph Anderson, cético como devem ser os investigadores da literatura.

Mas essa primeira impressão é enganosa. Em mais de 500 páginas, o livro rompe os limites da trama detetivesca e vai ao encontro do Stephen King barra-pesada dos anos 1970 e 1980. Quem adora "Cujo", "O Talismã" ou "It - A Coisa" é capaz de comemorar as reviravoltas do enredo.

O mote da história é o assassinato de um menino de 11 anos em Flint City. Novamente King usa como cenário uma cidadezinha fictícia, sua habitual escolha de um microcosmo para desenvolver narrativas. Pelo menos na parte inicial do volume, não há mistérios. O professor Terry Maitland, treinador do time de beisebol da escola, é preso como autor do crime brutal, descrito por King com detalhes quase ultrajantes.

Há provas incontestáveis contra Maitland. Então King dedica um bom intervalo de páginas à execração do professor, um tema que tem frequentado tanto a ficção quanto o noticiário real. No entanto, o acusado apresenta um álibi forte. O caso se complica. O detetive Anderson vai começar a duvidar da convicção que uma pessoa não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Fica tudo pronto para King injetar na segunda metade do romance o sobrenatural. De quebra-cabeças policial, "Outsider" se transforma em algo surpreendente e realmente assustador. A conclusão chega para ser inserida nos grandes momentos de King.

Há pontas desamarradas na trama. Para oferecer o inusitado, King derrapa aqui e ali em questões lógicas, mas tudo fica perdoado pelo ritmo crescente de tensão que consegue imprimir ao livro.

Para os admiradores de longa data, diversas citações a trabalhos anteriores do autor podem ser pinçadas no texto. Há brincadeiras com "Cujo" e "Torre Negra", além de uma alfinetada na adaptação de Stanley Kubrick para "O Iluminado", que King nunca engoliu muito bem.

Quem conhece Edgar Allan Poe (1809-1949) pode notar semelhanças com "William Wilson", história curta que o escritor americano publicou em 1839, sobre um homem que descobre o mal em sua alma. King admitiu a influência de Poe na concepção de "Outsider".

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