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Apropriado por falsários na rede, Caio Fernando Abreu tem contos reunidos

Para crítico, autor é uma espécie de cartógrafo da sensibilidade do jovem urbano e suas angústias

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São Paulo

Os anos 1970 foram pródigos em contistas: Sérgio Sant'Anna, João Gilberto Noll, Moacyr Scliar e outros tiveram uma produção importante naquela década.

Mas talvez nenhum tenha se aproximado da condição de ídolo pop, abraçado por gerações sucessivas de jovens, como Caio Fernando Abreu, que também escreveu romances, peças, crônicas e poesia.

Há toda uma obra apócrifa de Caio F. na internet, frases pueris que o autor jamais escreveu, mas que são atribuídas a ele —é um problema, naturalmente, mas também há um quê de reconhecimento em ser falsificado.

Quem quiser voltar à fonte original tem um novo instrumento em mãos. Os contos todos de Caio agora estão reunidos em um único volume, lançado pela Companhia das Letras nesta quarta (5).

É uma produção que começa com "Inventário do Ir-Remediável" (1970), passa por "O Ovo Apunhalado" e termina com textos dispersos, incluindo três inéditos que circulam há anos na internet.

O clássico "Morangos Mofados", que projetou Caio em 1982, na antiga coleção Cantadas Literárias, da editora Brasiliense, também está lá.

É curioso o interesse renovado dos jovens por Caio, um autor profundamente conectado a seu momento histórico —com a contracultura, a ditadura militar e, depois, a Aids.

O crítico literário e professor de letras da Uerj Italo Moriconi, que assina um dos posfácios do volume, explica o fenômeno pela exploração que Caio faz do amadurecimento. "Hoje existe essa caixinha mercadológica dos livros 'young adult' [jovens adultos]. Ele não está nela, mas fala dessas percepções. Consegue dar uma universalidade a esse amadurecimento. O jovem que enfrenta essas questões se identifica."

Outro ponto é a mistura de cultura letrada e cultura pop. "Ele é uma espécie de cartógrafo da sensibilidade do jovem urbano e suas angústias que não são muito dramáticas, mas também não são descartáveis", diz Moriconi.

O escritor declarava sua homossexualidade num período em que isso não era comum —o tema atravessa sua obra, na qual por vezes irrompe a violência homofóbica.

A forma como tratou do assunto também pode explicar o interesse dos jovens —pelo menos entre a juventude ligada a ideias como a fluidez de gênero. "Para usar uma expressão da moda, ele escreve de um ponto de vista que não é heteronormativo. E você tem essa juventude artística, de vanguarda, que preza por esse registro."

Por vezes, a expressão da sexualidade confrontada pela violência serve de alegoria para um país sob ditadura.

Claro, apesar de todos esses elementos, um deles é crucial: diferentemente de autores de sua geração dedicados ao experimentalismo, Caio é um contador de histórias.

Contos Completos

Caio Fernando Abreu. Ed. Companhia das Letras. R$ 79,90 (768 págs.). Lançamento nesta quarta (5), às 20h, no Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195

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