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Globo transforma estupros de Abdelmassih em série de ficção

Vitimas do ex-médico temem que minissérie 'Assédio' transforme tragédia em novelão

Isabella Menon
São Paulo

A história da nova minissérie no Globoplay vai soar familiar. O renomado médico Roger Sadala, especialista em reprodução humana e conhecido como Doutor Vida, estupra suas pacientes.

Se o nome de Roger Abdelmassih lhe veio à cabeça, não estranhe. “Assédio”, com direção de Amora Mautner, é baseada no ex-médico, condenado a 278 anos de prisão por estupro contra 39 mulheres, em 2010. Com a série, o canal tenta surfar na audiência que denúncias de abusos e temas atrelados ao feminismo têm trazido nos últimos anos.

A trama televisiva é ficcional, ou seja, os nomes de vítimas, suas histórias, características e detalhes foram preservados. 

Com dez episódios, a minissérie que estreia nesta sexta-feira (21), foi construída como se fosse um documentário —ainda não há previsão de estreia para a TV aberta. Vítimas como Stela, personagem de Adriana Esteves, relatam seus sofrimentos, enquanto os casos são rememorados como flashes.

No primeiro episódio, Sadala, interpretado por Antonio Calloni, vive com sua tradicional família. O temperamento do médico é apresentado como o de um sujeito instável. 

Durante um jantar, por exemplo, ele perde a paciência e quebra objetos porque suas filhas não gostam da sua receita apimentada. “Eu batalho muito por essa família”, diz ele acabando com o clima do encontro.

Logo no início, a cena de estupro de uma de suas pacientes já revela a outra face do médico. Nela, Stela aparece semi-acordada quando é assediada por Sadala, logo após o procedimento de inseminação artificial.

​Vana Lopes, que foi vítima de Abdelmassih na vida real, teme que ao ficcionar suas memórias, o assunto seja apresentado de forma romanceada. “Algumas mulheres estão muito incomodadas porque não fomos consultadas”, disse ela que coordena o grupo Vítimas de Abdelmassih.

Lopes pondera e diz que “todo espaço que retrata a violência é bom, porque isso dá coragem as outras vítimas de relatarem o que sofrem”. Desde o ano passado, o ex-médico, 74, cumpre regime de prisão domiciliar.

Hoje, o grupo comandado por Lopes ajuda mulheres em estado de vulnerabilidade e que sofreram algum tipo de abuso sexual. 

Para a autora de “Assédio”, Maria Camargo disse que a história em si não foi o que mais lhe interessou.

"Todos conhecem esse caso, mas a união deste grupo de vítimas foi o que me chamou atenção”.

Assim, a partir desta história de coletividade e heroísmo dessas mulheres que ela começou a escrever a proposta da série. 

A união de mulheres contra casos como esse passou a ser ainda mais comentada desde o movimento MeToo, que teve início no ano passado, após atrizes hollywoodianas se unirem para denunciar o megaprodutor Harvey Weinstein.

Camargo diz que logo depois que apresentou a proposta da série, em 2017, que se iniciou o MeToo. “Casa muito bem os dois casos, pois eles tratam do mesmo assunto que é a quebra de silêncio.” 

 

Assédio Globoplay, a partir desta sexta-feira (21). 16 anos. 

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