Iraniano Mahmoud Kalari ganha homenagem no MoMA

Cinegrafista e diretor de fotografia, que tem mais 80 filmes no currículo, participou da seleção das 12 obras

Danielle Brant
Nova York

São mais de 80 filmes nas costas do cinegrafista e diretor de fotografia iraniano Mahmoud Kalari, 67, filmados com diferentes cineastas, atores e técnicas.

Aos curadores do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), coube a tarefa de selecionar 12 obras de Kalari para uma homenagem a um dos mais influentes nomes do cinema do Irã.

Durante esse garimpo, a prioridade foi escolher obras que pudessem mostrar a diversidade do trabalho do iraniano, afirmou La Frances Hui, curadora associada do departamento de filme do MoMA.

"Ele trabalhou com uma grande variedade de diretores, atravessando gerações, gêneros e estilos. Então é uma prioridade para a seleção que seja representativa do escopo de seu trabalho", disse.

Mas também foram consideradas questões de ordem prática, como a disponibilidade das obras.

"Mesmo filmes feitos nos anos 1980 e 1990 --que nós não consideramos antigos-- podem não estar disponíveis em um formato adequado e em condições boas o suficiente para exibição pública", disse a curadora.

Os trabalhos selecionados consideram a obra do iraniano a partir de 1996 e abrangem dez diretores, entre eles o próprio Kalari.

A seleção dos longas que fariam parte da exibição contou com a participação do cinegrafista iraniano.

Até o dia 30, o público poderá ver, por exemplo, um de seus trabalhos mais premiados, "A Separação" (2011).

A história gira em torno de Simin, que pretende deixar o Irã acompanhada do marido, Nader, e da filha Termeh.

Nader desiste da viagem para cuidar do pai, doente, o que faz Simin pedir o divórcio, que é negado.

O filme ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012, a primeira produção iraniana a ganhar uma estatueta dourada. Também conquistou o Urso de Ouro do Festival de Berlim de 2011.

Também está na mostra "Abr-O Aftaab" ("A Nuvem e o Sol Nascente", em tradução livre), dirigido por Kalari e que conquistou o prêmio principal do Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata de 1998.

Outro clássico exibido será "O Vento nos Levará" (1999), vencedor do prêmio da crítica e do grande prêmio especial do júri do Festival de Veneza de 1999.

Para Hui, os 12 filmes selecionados oferecem um vislumbre do cinema iraniano das últimas duas décadas.

"Realmente demonstra o papel central que Mahmoud desempenhou em moldar o envolvente cinema iraniano", afirmou a curadora.

A ideia de compilar os filmes surgiu pela admiração que o cinema iraniano desperta no mundo.

Hui disse ter ouvido sobre a reputação do cinegrafista por muito tempo e teve a oportunidade de encontrá-lo em 2017. Foi quando ambos começaram a discutir as bases para montar uma retrospectiva das obras de Kalari.

A curadora enumera entre seus trabalhos favoritos "Peixe e Gato" (2013), do jovem diretor Shahram Mokri.

A produção, um mix de terror, drama e suspense, foi filmada em um único plano-sequência e é baseada na história real de um restaurante que servia carne humana moída.

Hui disse considerar o filme "delicioso" e "espantoso".

"Eu não consigo parar de pensar e falar sobre ele", afirmou a curadora. "É um plano-sequência único de duas horas, e a tomada é central para a história e o conceito do filme, uma jornada alucinógena pela mudança de tempo e espaço", comentou.

A execução de Kalari, afirmou Hui, é "um triunfo técnico e de narrativa de histórias".

Pela fotografia do cinegrafista, defendeu, é possível entender o cinema iraniano e o Irã em toda sua complexidade.

"Ele não quer se engajar em apenas um tipo de filmagem e não quer que as pessoas vejam seu trabalho e o cinema iraniano de uma maneira unidimensional", ressaltou.

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