Descrição de chapéu

RÉPLICA: Secretaria quer limar monopólio, não fazer lobby

Secretário municipal de Cultura contesta reportagem sobre investigação de irregularidade na Lei de Fomento ao Teatro

André Sturm
São Paulo

Máfia, truste, guilda?

Você consegue imaginar um concurso público em que os candidatos escolhem os jurados? Que uma instituição represente vários inscritos e vote diversas vezes? Que em 28 de 32 edições os três jurados escolhidos sejam indicados por essa mesma instituição? Que alguns indicados foram jurados oito vezes? 

Que 88% dos projetos aprovados sejam representados por esta mesma instituição e, em algumas edições 100%!? Que nestas 32 edições do concurso esta mesma instituição receba R$ 159 milhões? 

Que os vencedores recebiam, cada um, até R$ 800 mil sem sequer ter a obrigação de fazer uma apresentação? Que alguns grupos ganharam até 11 vezes? E que em sua grande maioria você nunca ouviu falar deles? Nem você nem ninguém que você conheça.

Pois isso existiu por 15 anos: o Edital de Fomento ao Teatro. Criou-se uma situação em que ou você fazia parte desta associação ou sua chance de vencer reduzia-se a quase zero.

Esta gestão da Cultura na cidade, após consulta à Procuradoria do Município, mudou a forma de votação, seguindo a lei. Para cada proponente um voto! O grupo que perdeu o controle de tal fortuna criou uma versão de que tal decisão tornava a votação menos democrática. 

 
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O secretário municipal de Cultura, André Sturm - Zanone Fraissat/Folhapress

Ora, durante 15 anos este grupo usou e abusou da prerrogativa de escolher jurados e ganhadores. Excluindo enorme parcela da classe teatral da possibilidade de vencer o edital, ou de maneira indireta obrigando-os a se associarem.

Não satisfeitos com isso, decidiram usar de qualquer forma de intimidação e pressão. Ameaças, acusações covardes e, pior, difamação. Juntaram uma série de acusações muito graves e falsas para formalizar denúncia no Ministério Público. Naturalmente o MP, ao receber tais acusações, é obrigado a abrir investigação. Aberta a investigação (que não caracteriza uma suspeição), tal fato é divulgado imediatamente.

Lamento que esta Folha de S.Paulo, em reportagem publicada em 19/9, opte por repercutir uma investigação de suposto “lobby na secretaria em edital” —quando justamente o que se faz atualmente é acabar com o monopólio descrito acima—, e deixe de mencionar um parecer do Ministério Público, ao qual a reportagem teve acesso, e que é favorável à Secretaria quanto ao sistema de votação. 

Diz o procurador: “Forçoso concluir, portanto, que no presente caso não restou configurada a alegada lesão ao direito líquido e certo sustentado pela impetrante”. Cabe ainda manifestação do juiz, mas fica bastante evidente a correção da medida.

A repórter diz que uma das acusações é de que outra instituição teria se “beneficiado das mudanças para aprovar projetos de seu interesse”. Como é possível se as mudanças se deram no edital em curso, suspenso por pedido de liminar feito pela antiga guilda?

Cabe destacar, ainda, que o presidente do sindicato que entrou com tal ação é também diretor da instituição que há anos se beneficia do monopólio. Sendo objeto ele de contestação judicial de sua eleição, pois não poderia o mesmo acumular os dois cargos.

Por fim, ao fato principal: a secretaria não deseja impedir que ninguém possa participar e vencer um edital. Mas é contra a situação anterior na qual um grupo decidia quem votava e quem ganhava. 

Pergunto eu: se os projetos destes grupos são tão relevantes, por que precisam ter todos os jurados para poderem ser aprovados? Qual o medo de jurados neutros? Serão os projetos tão pouco relevantes que se não forem julgados por pessoas comprometidas com a causa não têm chance de serem contemplados?

Chega deste tempo de privatização do recurso público sob um discurso pseudo-democrático. Pela verdadeira democracia, que permita a diversidade e a variedade. Com todos podendo competir e vencer.

André Sturm é  secretário municipal de Cultura

 

Sturm não respondeu à reportagem

Antes da publicação da reportagem “Ministério Público investiga suposto lobby no Fomento”, a Folha procurou a Secretaria Municipal de Cultura e informou o órgão do conteúdo do texto. Nem a pasta nem seu secretário responderam. Informaram que só se manifestariam após serem notificados pelo Ministério Público sobre o inquérito.

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