Descrição de chapéu

Caloroso e aventureiro, Fabrizio Fasano teve uma vida de altos e baixos

Mesmo se retirando dos negócios, nunca deixou de circular pelos restaurantes

Josimar Melo
São Paulo

​Fabrizio Fasano teve uma vida de aventuras, de altos e baixos, foi muito rico e perdeu tudo —mas, até o fim, não perdeu o sorriso gentil com que iluminava os salões de seus restaurantes e a forma até mesmo amorosa como tratava toda gente. Mesmo nos últimos anos, quando, já alquebrado, foi se retirando do cenário e pouco era visto em público.

A elegância e a sensibilidade para com as pessoas são fundamentais para um restaurateur. A hospitalidade pode significar toda a diferença para o sucesso de um restaurante. Basta ver inúmeros exemplos de casas com uma cozinha muito boa, mas que não decolaram por serem frias ou com proprietários pouco calorosos.

É curioso que o milanês Fabrizio, morto neste sábado (24) aos 83 anos, não tenha sido exatamente lapidado para o ramo ao longo da vida. Devia estar no sangue, já que seu avô (desde 1902) e seu pai dirigiram casas de sucesso na cidade. Quando chegou sua vez, porém, não se identificou com a restauração e tomou outro rumo. 

 

Das várias atividades em que se envolveu, a mais fulgurante foi a produção de um uísque brasileiro que fez história, o Old Eight. Enriqueceu vendendo a bebida, enriqueceu mais ainda vendendo a marca para uma multinacional. E perdeu tudo quando voltou a lançar uma marca própria, Brazilian Blend, que fracassou de forma retumbante.    

Conta-se que, como empresário, ele era errático, meio imprudente, promovia zigue-zagues que podiam transitar celeremente do sucesso ao desastre. Mas a história mostraria como foi acertada para a gastronomia sua decisão, tomada no início dos anos 1980, de finalmente retomar a tradição da família, abrindo novamente um Fasano; e de perceber que seu filho Rogério (então um garoto nos seus 20 anos, estudando cinema em Londres) era talhado para tocar a empreitada, para a qual o recrutou.    

Por tudo o que acompanhei desde então, mesmo de longe (pois não conheço os detalhes internos da empresa), Fabrizio teve a sabedoria de colocar-se numa posição humilde nesta nova fase da vida. Era conhecido no mercado, tinha a magia do nome que ainda soava como parte da história da cidade, era o dono do grupo —mas foi, paulatinamente, entregando o comando da locomotiva ao filho inicialmente inexperiente, porém movido pela natural ambição juvenil e com um talento inato para o ramo.

Mesmo se retirando dos negócios, enquanto a saúde permitiu Fabrizio Fasano nunca deixou de circular pelos restaurantes. Seu sorriso encantador, aliado a seu charme pessoal e à aura que o sobrenome contém, quase faziam com que o luxo e a excelência gastronômica das casas virassem mero cenário para o calor humano que ele irradiava.

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