Três diretores brasileiros são selecionados para Festival Sundance

Fernando Grostein Andrade, Gabriel Mascaro e Petra Costa irão à meca da produção independente

Cena do filme 'Divino Amor', de Gabriel Mascaro

Cena do filme 'Divino Amor', de Gabriel Mascaro Divulgação

Bruno Molinero Guilherme Genestreti
São Paulo

O Festival Sundance, principal vitrine do cinema independente, divulgou nesta quarta (29) os selecionados para a sua edição de 2019. Três filmes brasileiros estão na seleção.

São eles "Divino Amor”, novo longa do cineasta e artista plástico pernambucano Gabriel Mascaro, o infantil “Abe”, do paulistano Fernando Grostein Andrade, e um documentário, ainda sem nome, que a mineira Petra Costa dirigiu sobre o impeachment. 

Meca da produção independente, a mostra americana de cinema acontecerá a partir de 24 de janeiro no estado americano de Utah. O ator e diretor Robert Redford é criador do instituto que organiza o festival e seu mais conhecido porta-voz. 

"Abe” é quase um filme infantojuvenil, com narrativa voltada, sobretudo, para crianças, jovens e famílias.

“Meu sonho era fazer um filme da Pixar em live action”, conta Grostein. “Mas ser um filme para a família não quer dizer deixar de contribuir para o debate. Ele fala de um menino em busca de sua identidade.”

O ator Noah Schnapp, o menino Will de "Stranger Things", aqui ao lado de Seu Jorge, vive Abe no filme homônimo de Fernando Grostein Andrade
O ator Noah Schnapp, o menino Will de "Stranger Things", ao lado de Seu Jorge, vive Abe no filme homônimo de Fernando Grostein Andrade - Caio Ferreira/Divulgação

O tal do Abe que dá título ao longa é um garoto prestes a completar 12 anos no centro de uma composição familiar complexa. A parte israelense gosta de chamá-lo de Avram. Já o lado muçulmano, de Ibrahim. Seus pais preferem Abraham. E ele, apenas Abe.

Apaixonado por gastronomia, o adolescente mora no Brooklyn, em Nova York, e sonha em ser um chef. Como nunca teve um aniversário ao lado da família sem que as pessoas começassem a brigar e a discutir, ele decide vencer todos pelo estômago e cozinhar algo tão bom que seja capaz de unir tios, primos, periquitos e papagaios.

Interpretado por Noah Schnapp (o Will Byers da série “Stranger Things”, da Netflix), Abe encontra então o brasileiro Chico Catuaba (vivido por Seu Jorge) em uma feirinha gastronômica tipicamente nova-iorquina —e, a partir daí, se desenrola a tentativa do garoto de aprender a cozinhar e a negativa do baiano Chico de aceitar ensiná-lo.

Previsto para ser lançado no Brasil no segundo semestre de 2019, com tentativa de classificação livre, “Abe” foi gravado no Brasil e nos Estados Unidos e é todo feito com personagens imigrantes. 

“O que me move no cinema é esse combate ao obscurantismo, a quebra de ideias já prontas”, diz Grostein, que mantém um blog na Folha.

A equipe também vem do mundo inteiro. Dirigida pelo brasileiro, a história foi roteirizada por americanos descendentes de árabes: Lameece Issaq e Jacob Kader. A fotografia ficou com o italiano Blasco Giurato, que trabalhou em “Cinema Paradiso” (1988), de Giuseppe Tornatore.

“Abe” ainda não tem data para exibição em Sundance, considerado um dos festivais mais importantes do circuito, responsável por revelar nomes como Quentin Tarantino e filmes como “Bruxa de Blair” e “Pequena Miss Sunshine”.

"Divino Amor", de Gabriel Mascaro, imagina um Brasil tomado por evangélicos e uma escrivã que tenta dissuadir divórcios em nome da manutenção da família tradicional.

"É um filme que especula sobre o futuro para entender o presente", diz o diretor. Na trama, ele criou um país em que a celebração mais importante deixou de ser o Carnaval para se tornar uma tal Festa do Amor Supremo. "Ali, a confusão entre Estado e religião é ainda mais forte do que hoje."

Em seu novo longa, Mascaro escala Dira Paes e Julio Machado no elenco. É ela quem interpreta a funcionária do cartório que conduz casais a uma terapia reconciliatória no grupo Divino Amor, que dá nome à obra. 

Dira Paes e Julio Machado em cena de 'Divino Amor', de Gabriel Mascaro
Dira Paes e Julio Machado em cena de 'Divino Amor', de Gabriel Mascaro - Divulgação

O cineasta recifense vê vantagens em fazer o filme estrear nos Estados Unidos. "É um país que também tem uma cultura pop gospel, como o Brasil, com essa tradição evangélica cada vez maior"

Mascaro é conhecido por borrar as fronteiras entre o relato ficcional e a visão documental em suas obras, marcadas pelo apuro estético. 

"Ventos de Agosto" acompanha a rotina de uma vila de pescadores açoitada pela natureza e por eventos insólitos. "Boi Neon" subverte clichês do sertão nordestino e atualiza o imaginário interiorano acompanhando a história de um vaqueiro com sonhos de se tornar estilista. 

Ambos os filmes passaram por mostras de cinema autoral. Em 2015, "Boi Neon" levou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza. 

Ex-assistente do diretor conterrâneo Marcelo Gomes, de "Cinema, Aspirinas e Urubus", Mascaro soma projetos em videoarte e realizou o documentário "Doméstica", escorado nas imagens que sete adolescentes fizeram de suas empregadas. 

Já Petra Costa, que em 2012 lançou "Elena", documentário sobre o suicídio da irmã, agora se volta para a crise política. 

Seu filme, que não tem nome, é descrito como uma "lição de moral para estes tempos em que a democracia está em crise". A diretora acompanhou os bastidores do impeachment da ex-presidente Dilma e afirma que teve "acesso sem precedentes" a ela e ao ex-presidente Lula.

"Testemunhamos a ascensão e queda deles e a a nação tragicamente polarizada que restou", diz a apresentação do longa. 

O filme de Petra se soma a "O Processo", de Maria Augusta Ramos, e "Excelentíssimos", de Douglas Duarte, entre as obras que retratam o imbróglio político de 2016. 

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