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Livros

Ao adotar ótica paulista, livro sobre Revolução de 1932 pouco acrescenta

Obra não contextualiza fatores que levaram à eclosão da guerra

Oscar Pilagallo

1932 – São Paulo em Chamas

  • Preço R$ 56,90 (352 págs.)
  • Autor Luiz Octavio de Lima
  • Editora Planeta

A chamada Revolução Constitucionalista de 1932 não se livrou até hoje da marca da ambiguidade.

Quase nove décadas após os paulistas terem se rebelado contra o governo provisório de Getúlio Vargas, a história pode ser contada como uma luta pela democracia, como reação ao fim da Primeira República, em que São Paulo tinha lá seu protagonismo, ou até como conflito separatista.

A ambiguidade tem razão de ser: todos esses elementos estavam por trás da guerra civil que teria custado a vida de pelo menos mil pessoas.

Em "1932 - São Paulo em Chamas", Luiz Octavio de Lima aborda os três meses de combates pela perspectiva paulista, uma opção que organiza a narrativa à custa de reduzir a complexidade do que estava em jogo.

Ao longo do livro, a batalha é tratada como "movimento revolucionário" ou "insurreição popular", o que desconsidera que os paulistas não almejavam uma ruptura da ordem política e social (o que justificaria o termo "revolução") e que grande parte dos trabalhadores se identificava mais com o discurso de Getúlio.

Só no fim, o autor concede que "talvez" o caso paulista se enquadre melhor no conceito de guerra civil, o que deixa um travo de hesitação na análise.

Ao se referir ao "furor cívico" da população, Lima lança mão de um clichê que não leva em conta as diferenças de pontos de vista entre classes sociais. Embora as forças de São Pulo tenham contado com cidadãos das mais diversas origens, o fato é que enquanto a elite doava ouro para a campanha, o operariado, influenciado por anarquistas e comunistas, era vigiado nas fábricas, pois havia o temor de sabotagem.

Além disso, há algum exagero na identificação de São Paulo como "potência consolidada" e de seu operariado como "pujante", uma vez que a indústria ainda engatinhava no Brasil.

Os capítulos iniciais, em vez de privilegiarem o contexto que levou à eclosão da guerra, se alongam em informações de almanaque. Curiosidades, como a letra de uma marchinha, com sátira à política miúda da época, ou a viagem de navio em direção ao exílio na Europa do presidente deposto em 1930, Washington Luís, se dão alguma cor ao texto, não ajudam a explicar o que vem pela frente.

Como sugere o título, "São Paulo em Chamas" se concentra no factual dos confrontos, entre 9 de julho e o início de outubro, quando o estado foi militarmente derrotado pelas tropas federais. As descrições sucintas e os perfis, no entanto, pouco acrescentam ao já estabelecido pela bibliografia, apesar do empenho do autor, que entrevistou especialistas e visitou locais onde há vestígios de trincheiras.

Jornalista, Luiz Octavio de Lima dá sua melhor contribuição para a história de 1932 ao apurar que ela ainda tem relevância econômica para descendentes dos que lutaram. Em 2016, mais de 1.400 pessoas, entre veteranos sobreviventes do levante e seus familiares, recebiam pensões e benefícios, que, naquele ano, custaram ao governo paulista R$ 12,4 milhões.

Oscar Pilagallo é autor de ‘História da Imprensa Paulista’
 

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