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Cinema

'Bandersnatch' gera uma questão: o público controla a narrativa ou o contrário?

Como se diz por aí, isto é muito 'Black Mirror'; filme interativo da Netflix faz parte do universo da série

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São Paulo

Black Mirror - Bandersnatch

  • Onde Netflix
  • Elenco Fionn Whitehead, Craig Parkinson, Alice Lowe.
  • Produção Estados Unidos e Reino Unido, 2018
  • Direção David Slade

Em um futuro próximo, você terá acesso a privilégios pelo sucesso que fizer nas redes sociais. Também será possível criar versões virtuais de entes queridos que já morreram. Sem falar no aplicativo de paquera que determina o momento em que se deve romper um namoro.

Foram inovações tecnológicas como essas —todas fictícias, mas bastante verossímeis— que fizeram a fama de “Black Mirror”.

A série estreou na TV britânica em 2011, mas só se tornou um fenômeno mundial depois que suas duas primeiras temporadas chegaram à Netflix, em 2015. A plataforma encomendou mais duas levas, e uma quinta está prevista para estrear neste ano.

Mas agora há um filme criado dentro do universo da série para saciar os fãs. “Bandersnatch” foi lançado de surpresa nesta sexta (28) como uma história interativa, no qual o espectador pode tomar decisões pelo protagonista.

A trama se passa em 1984, quando os videogames ainda estavam nascendo. É para essa indústria incipiente que Stefan (Fionn Whitehead, de “Dunkirk”) quer entrar.

O personagem é nerd solitário que vive com o pai viúvo e passa os dias adaptando o livro “Bandersnatch”, um labirinto de narrativas escrito por um autor desequilibrado, para uma versão em game.

Stefan leva sua ideia à Tuckersoft —uma empresa que existe na vida real— e é contratado para desenvolvê-la. Mas o rapaz é atormentado pela culpa que sente pela morte da mãe, e o tratamento psiquiátrico que faz parece mais confundi-lo do que ajudá-lo.

A todo tempo, o espectador é convidado a fazer escolhas por Stefan. As primeiras são inócuas, e não afetam a história: qual cereal ele deve comer, ou qual música escutar. Mas, a partir do momento em que recebe a proposta da Tuckersoft, cada clique do espectador o afetará radicalmente.

E, assim, a inovação tecnológica salta da trama em si para a experiência de assistir ao filme. Só que a sensação de controle é ilusória. Algumas decisões levam a becos sem saída, e o espectador é instado a voltar atrás.

Também há pegadinhas e até “ovos de páscoa” —elementos presentes na tela que, se clicados, acarretam consequências, sem aviso prévio.

A Folha assistiu duas vezes a “Bandersnatch”, a cada vez fazendo escolhas diferentes. E conseguiu ver todos os cinco finais principais.

Um deles é metalinguístico: Stefan descobre que é apenas um ator em um set de filmagem. Outros são abruptos, e só um é mais ou menos feliz. 

É importante ressaltar que a interatividade de “Bandersnatch” só funciona em alguns aparelhos (um logo vermelho aparece no canto esquerdo da tela quando há compatibilidade). Também existe a possibilidade de deixar o filme correr, sem clicar em nada.

Segundo relatos, essa opção chega a um final em 90 minutos, e os desfechos alternativos são mostrados depois dos créditos.

“Bandersnatch” não é profundo nem surpreendente como os melhores episódios da série, mas é divertido. E vai gerar muito assunto, além de uma questão pertinente: é o público quem controla a narrativa ou o contrário? Como se diz por aí, isto é muito “Black Mirror”.

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