Você se sente impotente diante da influência que a internet tem na vida de seus filhos? Acha que seus esforços como pai, mãe e educador não vão impedir que as crianças se tornem autômatos? Se sim, pegue a senha e entre na fila, porque você não está sozinho. Esse tem sido o discurso majoritário diante da perplexidade que a revolução digital causa.
Mas há esperanças. No recém-lançado "Hipnotizados", Brenda Fucuta tem o bom gosto de começar citando a resistência de Sócrates, descrita no "Fedro" de Platão, à grande novidade da época —a escrita. O argumento do filósofo lhe parece convincente: como Sócrates poderia dialogar com um texto escrito?
Muito tempo se passou para que superássemos o choque diante da escrita, da imprensa, da indústria, das telecomunicações até chegarmos à revolução que nos concerne e cujos efeitos são imprevisíveis. Como foram imprevisíveis as revoluções anteriores, diga-se de passagem.
O livro de Fucuta se torna leitura recomendada para quem quer ter acesso a uma pesquisa bem-feita e embasada, que dá chance ao leitor de pensar a questão dos riscos e efeitos da internet sobre os jovens. A escrita é leve e acessível, escolha apropriada quando se quer alcançar um público diversificado.
Os sujeitos entrevistados soam familiares e recobrem um amplo espectro de situações que desesperam os pais. Sem julgamentos apressados, a autora evita interpretações alarmistas que levam à impotência citada acima. O tema da adolescência está muito bem colocado e aproxima o adulto da problemática dessa fase.
Entendo serem fundamentais hoje algumas questões que o texto aponta.
Pais, mães e educadores precisam se informar, perdendo o medo do mundo virtual no qual não nasceram. Os adultos não devem se intimidar diante da competência que os filhos têm e eles não, porque a competência dos educadores é de outra ordem. As crianças precisam que lhe ensinemos a serem críticas, éticas, justas, pacientes, enfim, tudo que a virtualidade coloca à prova.
Quanto à escola, já passou da hora de bancarmos que um espaço para discutir temas como internet, suicídio, sexualidade, direitos civis e outros deve fazer parte da grade curricular. É nesse espaço privilegiado que as crianças podem falar umas com as outras, mediadas por adultos interessados.
A internet pode ser uma arma fatal para quem está enfrentando dificuldades, principalmente na infância e na adolescência e, ao mesmo tempo, uma ferramenta incrível de nossa época. Outras épocas tiveram outras expressões do sofrimento, outros riscos.
O livro de Brenda Fucuta vem com uma "carta de navegação" ao final, um tanto heterogênea (como quando cita que o WhatsApp é recomendado a partir dos 16 anos), mas onde se pode encontrar algumas boas dicas para situações específicas —controle de conteúdo e outros assuntos.
A etiqueta e a ética no uso da internet ainda estão sendo criadas e nós temos que aprender a aplicá-las em nós mesmos antes de exigir isso de nossos filhos.
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