Música muda ruas de Mercedes, pequena cidade no interior do Uruguai

Festival Jazz a la Calle reúne cerca de 200 músicos de toda a América Latina

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Mercedes (Uruguai)

Já passa de meia-noite, mas o garoto de três anos não parece nem um pouco cansado em sua bicicleta. Ele passa pelo grupo de jovens que fumam, legalmente, cigarros de maconha, cruza três senhoras que tomam mate e estaciona em frente a um palco.

O que mais pareceria um delírio literário latino-americano é apenas um dia normal do Jazz a la Calle, festival que, uma vez por ano, muda completamente a vida de uma cidade minúscula no interior do Uruguai.

O endereço é Mercedes, a 275 km de Montevidéu. Todo janeiro, há 12 anos, a paisagem de ruas pacatas à beira do rio Negro troca, por causa do evento, a mansidão de seus usuais 40 mil habitantes por um contingente extra de 2.000 a 3.000 pessoas por dia. Destas, cerca de 200 são músicos de toda a América Latina.

Musicistas se apresentam no festival Jazz a la Calle, em Mercedes, no Uruguai
Musicistas se apresentam no festival Jazz a la Calle, em Mercedes, no Uruguai - Rodriguez Cacheiro/Divulgação

De acordo com Mirian Lamas, presidente do Movimento Cultural Jazz a la Calle, o impacto na cidade é poderoso. O Departamento de Turismo da Intendência calcula que, aproximadamente, se produza um movimento econômico em Mercedes durante o encontro de US$ 250 mil a US$ 300 mil.

Durante o dia, a mudança no cenário é quase imperceptível. Mantém-se a rotina das lojas em um diminuto quadrilátero comercial atrás da igreja, funcionam escolas, correio e hospital, e o trânsito segue normalmente, com sua curiosa enxurrada de motocicletas muitas vezes ocupadas por alguns adultos e um bebê.

É com o cair da tarde que a mágica acontece. Instrumentistas ensaiam nas praças que margeiam a rambla, formam-se rodas de improviso com moradores, visitantes e artistas, e, aos poucos, todos se preparam para as apresentações.

Em 2019, são três os shows diários, no teatro local ou em um palco ao ar livre, a depender das chuvas e do humor do rio, que às vezes sobe e alaga as ruas. Jam sessions atravessam a madrugada em um bar.

"A energia é única. Tantos sons, nacionalidades. Quando estou em Mercedes, tento aproveitar ao máximo", avalia o pianista brasileiro Salomão Soares, 28, que pela segunda vez participa do Jazz a la Calle.

"É especial a grande proximidade dos artistas com o público, os estudantes e os organizadores", diz a também brasileira Carol Panesi, 33, que, neste ano, trabalhou como curadora, além de tocar violino, flugelhorn e piano.

O evento tem a ajuda de voluntários que, como padrinhos e madrinhas, apanham os músicos na rodoviária com seus carros particulares, providenciam traslados e distribuem os tíquetes da moeda criada especialmente para o festival, aceita em mercados e restaurantes.

"É perceptível que a cidade fica em festa, há muita gente, é alegre", diz a engenheira civil argentina Melina Zapata, 29. "Sou voluntária porque gosto de conhecer os músicos, mas principalmente porque quero que esse festival continue acontecendo a cada ano."

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