O prédio estava numa situação calamitosa”, lembra o ator Sérgio Mamberti sobre o estado do TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia, há cerca de dez anos. “Lá em cima estava tudo sem telhas, chovia e a água escorria por todos os cinco andares.”
À época, Mamberti havia assumido a presidência da Funarte e deu sequência às negociações iniciadas na gestão anterior, de Celso Frateschi. O governo comprou, por R$ 5 milhões, o prédio histórico da rua Major Diogo, no centro paulistano, que abrigou um dos maiores marcos do teatro brasileiro moderno.
Mas a reforma, que custou cerca de R$ 15 milhões aos cofres públicos, nunca foi finalizada, e o teatro segue ainda hoje fechado. Há um ano e meio, o então ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, anunciou a concessão do espaço à iniciativa privada, e se seguiu uma forte reação da classe artística, que convocou a campanha Salve o TBC e criou a ATBC, Associação de Amigos do TBC, que quer fazer do prédio um memorial das artes cênicas.
E é ainda envolto em incertezas que o teatro tem seus 70 anos, completados em outubro passado, celebrados em evento agora, com leituras cênicas de duas peças que marcaram aquele palco. Johana Albuquerque dirige Daniel Alvim, Vera Bonilha e outros em “Volpone”, de Ben Jonson. Já Cibele Forjaz encena “A Semente”, de Gianfrancesco Guarnieri, com nomes como Frateschi e Denise Fraga.
“Certamente não seríamos quem somos no teatro brasileiro se não fosse o TBC”, diz Frateschi. “Ele realmente foi a raiz de uma árvore muito frondosa”, continua Fraga, que integra a ATBC. “As pessoas nem sempre têm ideia, mas foi dali que saíram grandes atores, como Paulo Autran, Tônia Carrero, Cleyde Yáconis.”
Foi lá que o empresário italiano Franco Zampari fundou a companhia Teatro Brasileiro de Comédia, em 1948. Importou da Europa técnicos e diretores de alto nível, como o encenador Adolfo Celi, que ajudaram a solidificar e modernizar as artes cênicas daqui.
Dali saíram outros grupos importantes, como o Teatro de Arena e o Teatro dos Sete, formado por Fernanda Montenegro, Sergio Britto, Gianni Ratto e Ítalo Rossi. O espaço ainda abrigou os primórdios da EAD, a Escola de Arte Dramática hoje vinculada à USP, e o embrião da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
Hoje, os antigos equipamentos do TBC, como sistemas de iluminação, estão guardados na unidade paulistana da Funarte. “Ninguém sabe o estado desse material”, diz o crítico e pesquisador teatral Alvaro Machado, integrante da ATBC e curador do evento deste aniversário de São Paulo.
A estrutura do teatro foi modernizada, mas falta o acabamento, que inclui poltronas, revestimento e equipamento técnico, uma reforma que custaria entre R$ 15 e R$ 20 milhões, segundo Machado.
Há três anos, quando Marcelo Calero estava à frente do Ministério da Cultura, a pasta fez um aceno ao Sesc, para que assumisse o local em regime de comodato, e a instituição demonstrou interesse.
A ideia era fazer dali um espaço com programação cultural e os serviços costumeiros das unidades do Sesc. Com as mudanças de gestão, contudo, as conversas com o governo esfriaram, mas a ATBC está retomando os contatos e espera que o contrato se firme.
“É uma judiação. Como o TBC está, ele está deteriorando”, diz Denise Fraga. “Tem uma corrida contra o tempo. E as goteiras são implacáveis.”
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