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Cinema Oscar 2019

Hollywood e sua Academia parecem se abrir ao mundo

Estatueta disputada por três diretores de fora dos Estados Unidos não é pouco

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Quase não se pode dar um passo neste Oscar sem topar com "Roma". Melhor filme estrangeiro? Concorre. Melhor filme? Concorre. Melhor diretor (Alfonso Cuarón)? Concorre. Para não ir longe, até uma mexicana com nenhuma vocação para estrela hollywoodiana, Yalitza Aparicio, ganhou indicação para melhor atriz.

Mas também não se vai muito longe sem tropeçar em "A Favorita". Poderia entrar na tradicional cota britânica da premiação, mas aqui temos um filme que põe em destaque, mais do que as habituais atrizes (Olivia Colman como melhor atriz, Rachel Weisz e Emma Stone como melhores atrizes coadjuvantes), o diretor grego Yorgos Lanthimos.

Em definitivo, um ano em que Hollywood e a Academia parecem se abrir ao mundo exterior. Certo, Cuarón é, digamos, da casa. Já ganhou Oscar. Mas entre os diretores indicados ainda há outro estrangeiro na direção (o polonês Pawel Pawlikowski, cujo "Guerra Fria" compete também a melhor filme estrangeiro): não é pouco, convenhamos.

A abertura aos negros também parece óbvia: Spike Lee, que até agora só tinha sido indicado pelo roteiro de "Faça a Coisa Certa" (1989), ressurge indicado a melhor roteiro adaptado e melhor direção, sem contar que seu "Infiltrado na Klan" também concorre como melhor filme.

"Pantera Negra" representa honradamente a categoria dos blockbusters hollywoodianos, com seu super-herói negro, com uma mitologia não menos estrambótica que a dos super-heróis brancos, mas certamente mais original, mais atritivo socialmente, mais forte no conjunto.

Se é possível falar de uma injustiça, eu diria que a direção impecável de Peter Farrelly para "Green Book: O Guia" merecia melhor sorte. O filme concorrerá como melhor roteiro original, ator (Viggo Mortensen), ator coadjuvante (Mahershala Ali), melhor filme. Quanto à direção, nada feito.

Também se pode pensar em uma clara abertura ao sistema de streaming, vulgo Netflix. Afinal, além de "Roma" concorrer a dez estatuetas, "A Balada de Buster Scruggs", dos irmãos Coen, entrou como roteiro adaptado. É mais do que nada.

Entre as atrizes, Lady Gaga chama a atenção como novidade ("Nasce uma Estrela"), enquanto Glenn Close é representante de um grupo de atrizes mais que competentes, mas talvez mais técnicas do que propriamente estelares.

Com "A Esposa" ela chega à sua sétima indicação. Entre os intérpretes masculinos, Rami Malek ("Bohemian Rhapsody") atinge um grupo de atores tarimbados, sólidos e especialistas em serem indicados a melhor ator e não ganharem.

No mais, pode-se até pensar em "Bohemian Rhapsody" como abertura ao universo homossexual. Mas, em definitivo, ele não está em questão nessa biografia de Freddie Mercury. Existe o apelo do personagem, forte, mas também do musical, um gênero tradicional que hoje poucos se arriscam a encarar.

Digamos, para terminar, que raras vezes a categoria melhor filme em língua estrangeira (ou seja, não inglês) trouxe filmes tão fortes e tão isentos da habitual demagogia que empesteia as premiações nessa categoria.

Pelo menos "Assunto de Família" (Hirozaku Kore-eda, Japão), "Cafarnaum" (Nadine Labaki, Líbano) e "Guerra Fria", além de "Roma", são filmes no mínimo muito dignos.

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