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Para começar, louve-se a coerência. Desde seus curta-metragens, o teatro é referência central nos filmes de Thiago B. Mendonça, o autor de "Jovens Infelizes".
O teatro ou a teatralidade, tanto faz. A ideia é que a representação é a base da existência. Cada um de nós representa um papel ao longo da vida.
No caso do longa-metragem, esses jovens infelizes do título não estão longe de nós nem são uma abstração. São, vamos dizer assim, esses jovens da geração que saía para protestar contra o aumento dos ônibus ou para gritar "fora, Temer", "não vai ter Copa" ou "ele não". Trata-se, enfim, de um filme de oposição.
Tudo muito bem: mas o que é, precisamente, oposição? Contra o quê ou a favor do quê é possível estar?
Essa oscilação é presente em vários momentos do filme: à enunciação de uma certeza sucede-se a dúvida, da mesma forma que o homem espancado na avenida Paulista (nossa histeria em estado máximo) depois retorna em outro papel (ator do filme).
Da mesma forma, alguém que se diz radical e ataca os supostos conformistas pode receber do conformista uma lição sobre radicalidade.
É este o encanto e a novidade desta estreia, que chega às salas depois de ganhar o prêmio principal do Festival de Tiradentes em 2016: trata-se de um elogio da revolta que não renega a dúvida.
O fascínio e a afinidade com a ideia de encenação atravessa o filme tanto quanto a resistência —da mesma forma que a menção a outros filmes traduz a filiação a certa tradição cinematográfica brasileira (a melhor, diga-se).
Por palavras, por gestos ou músicas, "Jovens Infelizes" expressa bem as perplexidades, abismos, espantos com que o país se defronta no momento.
Um filme excessivo, em vários sentidos. Inclusive na extensão. Não é bom diretores montarem seus filmes, é o que se diz: eles se apaixonam pelos atores, pelas imagens.
Se tirasse uma meia hora, teríamos um filme mais próximo de seu público. O que não torna Mendonça um cineasta menos digno de se seguir com atenção.
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