'Greenleaf', com produção e atuação de Oprah, investiga império evangélico

Série desmistifica ascensão das igrejas e tem quarta temporada prevista para este ano

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Mae (Lynn Whitfield) e James (Keith David), casal que comanda a igreja da série ‘Greenleaf’
Mae (Lynn Whitfield) e James (Keith David), casal que comanda a igreja da série ‘Greenleaf’ - Divulgação
São Paulo

​A parábola bíblica do filho pródigo, sobre o rapaz que larga a família e depois retorna à casa do pai, pode parecer uma boa ilustração para as cenas de abertura da série de TV americana "Greenleaf".

Grace (Merle Dandridge), a filha mais velha da família Greenleaf, se afastou dos parentes e do império evangélico construído por seus pais, a igreja Calvary, de Memphis, para ter uma vida secular.

Após anos isolada, ela retorna divorciada e com uma filha adolescente para o enterro de sua irmã Faith (Terri Abney), uma morte rodeada de mistérios que podem trazer à tona toda a sujeira que os Greenleaf têm varrido para debaixo dos tapetes por décadas.

A analogia com o filho pródigo termina aí. Embora o pai, James (Keith David), líder da igreja, esteja feliz com a volta da única filha que julga estar à altura para a sucessão no púlpito, o resto da família se escandaliza com as tentativas que ela faz de esclarecer o que levou à morte de Faith.

Cenas de cultos animados com corais afinados e sermões emocionantes dividem espaço com momentos nada santificados, como a infidelidade conjugal dos pastores dentro do próprio templo.

A série mostra de maneira precisa como os jogos políticos entre os grupos internos (diáconos, músicos, grandes doadores de dinheiro etc.) precisam ser constantemente equilibrados pelos líderes para que o rebanho continue dentro da cerca e o dinheiro siga entrando na conta.

Manter a estrutura para entreter os fiéis sai caro e, muitas vezes, faz com que o líder da igreja saia a pedir doações ou se envolva em atividades ilícitas —qualquer semelhança com a realidade brasileira não é mera coincidência.

"Greenleaf" consegue levar quem assiste para dentro desse mundo e é umas das únicas obras de ficção atuais que desmistifica para o público geral o que está por trás da ascensão das igrejas evangélicas no Brasil e mundo afora, mesmo que a história seja ambientada nos Estados Unidos.

O rápido crescimento dessas congregações por aqui é um fenômeno que tem raízes na chegada dos missionários pentecostais, no início do século 20, e na fundação dos maiores braços desse movimento, caso da Assembleia de Deus, existente há mais de cem anos.

O pentecostalismo, corrente que prega a experiência direta e pessoal com o Deus cristão através do espírito santo, nasce entre protestantes negros dos Estados Unidos no início do século 20 e a série faz justiça a isso.

Como é comum nas produções do Oprah Winfrey Network (OWN), canal de TV americano que leva o nome da apresentadora de talk shows e no qual a série teve sua estreia, o elenco é majoritariamente composto por atores negros.

A própria Oprah aparece em momentos da série no papel de Mavis, dona de um bar de jazz na cidade e irmã da mulher do líder da igreja, Mae (Lynn Whitfield). Ela também é produtora-executiva.

Na terceira temporada, a mais recente, a cantora e atriz Patti LaBelle interpreta a pastora midiática Maxine Patterson e mostra a voz nos cultos da Calvary, o que pode agradar aos fãs de música gospel raiz.

A quarta temporada do programa estreia na televisão americana em agosto.


Greenleaf

Três temporadas disponíveis na Netflix

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