Ave Sangria lança disco 45 anos depois de ter música censurada

'Vendavais' marca retomada na carreira da banda pernambucana de rock psicodélico

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São Paulo

Foram necessários 45 anos para que o Ave Sangria voltasse a lançar um disco. "Não tínhamos viabilização econômica, mas em 2017 surgiu um cara disposto a financiar isso", conta o vocalista e compositor Marco Polo Guimarães.

Os integrantes da banda pernambucana de rock psicodélico Ave Sangria
Os integrantes da banda pernambucana de rock psicodélico Ave Sangria - Flora Negri/Divulgação

Após ter uma faixa censurada na ditadura, a banda pernambucana ficou décadas no esquecimento até uma reunião para shows que culminou no álbum "Vendavais", que acaba de ser lançado.

"Começamos a voltar, na verdade, em 2008, com convites para que eu e o Almir tocássemos músicas da banda", conta o vocalista, falando do ex-baixista e atual guitarrista do grupo, Almir Oliveira. De 1974 até o fim da década passada, os dois principais compositores do grupo ficaram afastados da música, um trabalhando com jornalismo e o outro como engenheiro civil.

Com exceção deles e de Paulo Rafael, até hoje guitarrista de Alceu Valença, os outros três integrantes do grupo morreram.

O novo disco é um resgate da primeira encarnação do Ave Sangria. Todas as músicas, com exceção da instrumental "Em Órbita", foram escritas entre 1969 e 1974. "A gente tinha na memória", diz Marco Polo. Faixas como "Sundae" chegaram a ser tocadas em shows na época, mas nunca haviam ganhado um registro de estúdio até "Vendavais".

O Ave Sangria teve sua carreira abreviada graças a uma música em que Marco Polo cantava sobre ter o coração partido por um senhor chamado Waldir. Originalmente composta para ser cantada por Marília Pêra, a faixa escalava posições entre as mais tocadas nas rádios nordestinas até ser proibida.

"Seu Waldir", um samba com guitarra psicodélica, até havia sido liberada pelos censores previamente, mas, foi por causa dela que os álbuns do Ave Sangria foram recolhidos das lojas. Os discos ainda voltaram a ser vendidos sem a canção --o que incomodou os militares foi a letra interpretada a partir de um ponto de vista homossexual.

Depois de muitos anos na condição de raridade, o disco caiu na internet e chegou a um novo público, grande o suficiente para levar o grupo a fazer shows, tocar em festivais (como o Psicodália e a Virada Cultural) e, enfim, lançar um novo álbum de inéditas. É como se os integrantes tivessem envelhecido, mas o público, não.

"A maioria do nosso público é jovem, nem tinha nascido na época", diz Marco Polo. "Coincidentemente, começamos na ditadura e agora voltamos em uma era retrógrada e fundamentalista. Acho que estamos fazendo um trabalho necessário em um momento desnecessário. Não merecemos regredir ao século 17. Vamos responder com música."

Vendavais

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  • Autor Ave Sangria
  • Gravadora Sunset Produções
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