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'Depois do Fim' reflete, em ritmo poético, sobre o abandono ferroviário

Documentário é baseado em depoimento de um ex-funcionário do setor

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Depois do Fim

  • Quando Estreia nesta quinta (27)
  • Classificação Livre
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Álvaro de Carvalho Neto

Veja salas e horários de exibição

O documentário começa em tom de melancolia. Pudera, o personagem é um ex-ferroviário, com mais de 90 anos, que por décadas viu estações lotadas e desbravava os trilhos do Rio Grande do Sul comandando locomotivas carregadas de passageiros e cargas e passou a conviver com o abandono que tomou conta do setor.

Num ritmo poético, “Depois do Fim” visita o passado de Evaristo de Moraes, em cujo depoimento se baseia o filme. A viagem no tempo mostra sinais de amargor no narrador, não pelo que viveu, mas pela incompreensão com o destino de estações, locomotivas, vagões e trilhos nas últimas décadas. “O tempo foi passando e, como pra tudo, o fim chegou”, diz trecho do documentário.

A reflexão sobre o abandono ferroviário está presente em todo o filme, por vezes até de forma repetitiva.

Com estética visual bem cuidada, locomotivas obsoletas, vagões enferrujados, estações destelhadas e pichadas, mato alto nos trilhos e dormentes apodrecidos se misturam às belas paisagens naturais percorridas pelos trens. Por vezes, o silêncio toma conta da cena, o que amplia a sensação de destruição do patrimônio ferroviário.

A estação de Santa Maria, um dos locais retratados no documentário de Álvaro de Carvalho Neto —que estreia como diretor de longa-metragem—, é um exemplo: abandonada desde os anos 90, já foi alvo de incêndios e furtos de materiais de construção.

Não há linhas regulares de passageiros no estado, apenas turísticas. O filme foi rodado também em locais como Bento Gonçalves, Marcelino Ramos e Santana do Livramento.

O surgimento das ferrovias, em 1854, impulsionou o desenvolvimento do país, que saiu da estagnação econômica que vivia no século 19. Esse cenário se manteve até o início do século passado, mas a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, freou os investimentos no setor e gerou o sucateamento das décadas seguintes.

Nessa viagem histórica, mas sem exagero de imagens antigas, o diretor foca o cenário de destruição —o que não falta é matéria-prima—, com imagens detalhadas da arquitetura típica das estações ferroviárias.

Apesar disso, há imagens históricas, como as de um embarque na estação de Santa Maria em 1909.

O questionamento constante do ex-comandante de trem é o porquê de as ferrovias terem sido sucateadas, na contramão do que foi feito em outros países.

Se, no filme, o ator afirma que depois dos 90 anos o corpo começa a se despedir da vida, com as ferrovias o início do fim foi mais precoce: a quebra da Bolsa nos EUA ocorreu pouco mais de sete décadas após os trens chegarem ao país. Eles persistiram, mas já fora da chamada era de ouro. Não é um filme só para saudosistas.

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