Caso de abuso considerado prescrito será usado contra Harvey Weinstein

Atriz Annabella Sciorra, de 'Família Soprano', deporá em janeiro por suposto estupro de 1993

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Ian Ransom
The New York Times

A atriz Annabella Sciorra deporá contra Harvey Weinstein em seu julgamento em janeiro por estupro e outras acusações relacionadas a crimes sexuais, anunciaram procuradores de justiça de Manhattan na segunda-feira (26).

Sciorra, conhecida por seu trabalho em "Família Soprano", acusou Weinstein publicamente de atacá-la sexualmente em seu apartamento em Gramercy Park em 1993, mas o incidente era antigo demais para que pudesse ser julgado, sob as leis estaduais.

Agora, porém, a procuradoria de justiça de Manhattan obteve um novo indiciamento de um júri de instrução que permitirá que Sciorra conte sua história no banco de testemunhas, sob a teoria legal de que seu depoimento ajudará a sustentar acusações de agressão sexual predatória, ainda que seu suposto encontro com o produtor tenha acontecido há tempo demais para que possa se tornar base de mais uma acusação de estupro, disseram os procuradores.

três mulheres com vestido de gala no Oscar
As atrizes (esq. para dir.) Ashley Judd, Annabella Sciorra and Salma Hayek na cerimônio do Oscar de 2018 - AFP

Weinstein, 67, no passado um dos produtores mais poderosos de Hollywood, se declarou inocente do novo indiciamento na Corte Suprema Estadual, em Manhattan, na segunda. Ele afirma que seus encontros sexuais com Sciorra e duas outras mulheres foram consensuais.

O juiz James Burke adiou o julgamento até 6 de janeiro, para permitir que Weinstein responda ao novo indiciamento.

Depois da audiência, a principal advogada de defesa de Weinstein, Donna Rotunno, falando nos degraus do tribunal, classificou o novo indiciamento como uma manobra de último minuto por procuradores que "estão desesperados".

"Creio que isso francamente seja uma demonstração da força do nosso caso - que o procurador distrital tenha recorrido a um júri de instrução na última hora", disse Rotunno. "O caso em si é fraco e eles sentem que precisam dessa porção para ajudar".

Mas Joan Illuzzi-Orbon, que comanda a equipe de acusação, disse que as mudanças no indiciamento tinham por objetivo remediar um obstáculo a adicionar Sciorra ao caso que o juiz Burke havia destacado em uma decisão no começo do mês.

O juiz havia decidido que o depoimento de Sciorra não era admissível porque o primeiro júri de instrução não o ouviu e por isso, na semana passada, a procuradoria distrital apresentou o depoimento dela a um novo júri de instrução, que votou por emendar o indiciamento.

Illuzzi-Orbon disse na segunda-feira que não havia "coisa alguma de novo" no documento de acusação e que os advogados de defesa de Weinstein estavam cientes das declarações de Sciorra. "Não há qualquer surpresa de nossa parte", ela disse ao tribunal.

homem usando terno
Produtor Harvey Weinstein - Yana Paskova/AFP

O cerne das acusações contra Weinstein continua a ser o depoimento de suas outras acusadoras: uma mulher não identificada que disse à polícia que Weinstein a dominou em um quarto de hotel na região central de Manhattan em março de 2013, e a assistente de produção Mimi Haleyi, que disse que Weinstein a forçou a se deitar e fez sexo oral nela em seu apartamento em Manhattan em 2006.

As acusações de ataque sexual predatório requerem que os procuradores públicos provem que Weinstein cometeu ataques sexuais sérios contra pelo menos duas mulheres. A acusação pode lhe valer sentença de prisão perpétua.

Gloria Allred, advogada da Califórnia que representa Sciorra, disse que sua cliente "espera um resultado justo".

Sciorra, que revelou sua história pela primeira vez à revista The New Yorker em 2017, disse que Weinstein a deixou em seu apartamento em Gramercy Park depois de um jantar da indústria cinematográfica em Nova York. Mais tarde, ele voltou e bateu à porta, disse Sciorra à revista, e forçou a entrada em seu apartamento.

Sciorra disse que Weinstein a encurralou em seu quarto ainda que ela protestasse. Ela disse que ele a jogou na cama, a estuprou e fez sexo oral nela, de acordo com a revista.

"Eu tentei resistir, mas não me restava muita força", ela disse à The New Yorker.

Illuzzi-Orbon disse que Sciorra não falou aos procuradores antes que o júri de instrução inicial concluísse seu trabalho no ano passado,

Weinstein enfrentava inicialmente acusações envolvendo três mulheres, em 2018. Mas em outubro o juiz Burke descartou uma das acusações depois que os procuradores admitiram que um detetive não os havia informado sobre uma testemunha que colocava em dúvida uma das acusadoras de Weinstein, Lucia Evans. Evans, executiva de marketing, disse a investigadores que o produtor a havia forçado a fazer sexo oral nele em seu escritório no bairro Tribeca, Nova York, em 2004.

Além das vítimas mencionadas no indiciamento atualizado, a procuradoria distrital de Manhattan também deve convocar três outras mulheres a depor sobre os "maus atos anteriores" de Weinstein, a fim de estabelecer um padrão de comportamento para uma pessoa descrita pelos procuradores públicos como predador sexual.

Os procuradores públicos do condado de Montgomery, na Pensilvânia, seguiram essa estratégia no julgamento por agressão sexual do humorista Bill Cosby, que resultou em uma sentença de prisão para ele.

No caso de Weinstein, uma das mulheres vai depor que o produtor a atacou em uma noite do segundo trimestre de 2004 em um hotel da região central de Manhattan perto da Park Avenue, de acordo com documentos do processo.

Uma segunda mulher relatará ao júri um ataque sexual que ela diz ter acontecido em um apartamento no SoHo onde Weinstein havia morado anteriormente. O incidente ocorreu entre maio e julho de 2005, de acordo com documentos do processo,

Um terceira mulher deve depor que o produtor a atacou em 19 de fevereiro de 2013, dentro de um hotel em Beverly Hills, Califórnia, segundo os documentos do processo. O incidente parece notavelmente semelhante a um suposto estupro descrito pelo jornal Los Angeles Times em 2017, contra uma modelo e atriz italiana.

A atriz, cujo nome não foi divulgado, disse ao jornal que Weinstein apareceu em seu quarto do Beverly Hills Hotel depois de um festival de cinema, sem avisar, e "forçou a entrada" por intimidação.

"Ele me agarrou pelo cabelo e me forçou a fazer algo que eu não queria", ela disse ao jornal. "Depois me arrastou para o banheiro e me estuprou brutalmente".

Um advogado da mulher não respondeu de imediato a pedidos de comentário.

 Tradução de Paulo Migliacci​

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