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Filme que representa o Brasil no Oscar tem estreia acalorada em Fortaleza

Obra de Karim Aïnouz abriu o festival Cine Ceará, onde diretor recebeu homenagem da atriz Fernanda Montenegro

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Fortaleza

Duas horas antes da estreia de "A Vida Invisível" no Brasil, nesta sexta (30), o cineasta Karim Aïnouz contava que não havia dormido na noite anterior.

A expectativa não era igual ao lançamento de outros filmes por uma combinação peculiar: estrear no Brasil a história que foi indicada para representar o país no Oscar na cidade em que nasceu e no São Luiz, a sala de cinema no centro de Fortaleza na qual viu seu primeiro filme. Isso o fez classificar o sentimento como uma mistura de ansiedade, emoção, apreensão e medo.

Como seria a receptividade do público, pouco mais de mil pessoas na abertura do festival Cine Ceará, a maioria convidados, mas também público comum que pôde pegar 200 convites na véspera da estreia?
"Espero que seja muito quente. Tem um elemento nessa equação que é o Nordeste, a resistência, a trincheira", disse Aïnouz à Folha, adiantando a posição contrária a possíveis cortes na cultura e ao possível fim da Ancine (Agência Nacional de Cinema) que embalou seu discurso ao ser homenageado antes da sessão -- o prêmio foi entregue pela atriz Fernanda Montenegro, que participa de "A Vida Invisivel". Nesta sexta, o presidente da agência, Christian de Castro, foi afastado pelo presidente Jair Bolsonaro.  ​

A reação foi quente, como Aïnouz previu. Ao chegar foi muito aplaudido ao passar pelo centro do enorme salão que forma o São Luiz, cinema de rua, um local que pouco lembra as salas atuais. Inaugurado em 1958 preserva a grandiosidade com lustres gigantes e um piso superior que explica ser chamado de cineatro. 

Antes do início do filme, um convidado de última hora também recebeu aplausos: Fernando Haddad, candidato à presidência derrotado em 2018 foi recebido aos gritos de "Lula Livre". Ciro Gomes, outro ex-presidenciável esteve presente, além do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), que prometeu investir mais dinheiro em cultura até 2022, segundo ele em caminho inverso ao governo federal. 
Em seu discurso, Aïnouz leu apoio a protestos que ocorrem na Universidade Federal do Ceará contra a indicação de Jair Bolsonaro do novo reitor, Cândido Albuquerque, que não foi o mais votado pela comunidade acadêmica na lista tríplice enviada a Bolsonaro. Defendeu a importância de um filme brasileiro ser indicado ao Oscar em meio ao que chamou de obscurantismo que pode afetar a cultura no Brasil. 

A exibição foi bem recebida, principalmente quando Fernanda Montenegro apareceu na tela. As personagens, que na maioria das cenas aparecem suando muito no calor do Rio de Janeiro dos anos 1950, levaram aos risos em momentos, principalmente no início, mas também ao choro em outros.  

A estreia de "A Vida Invisível" no circuito nacional será primeiro nas salas do Nordeste a partir de 19 de setembro. A estreia oficial no circuito nacional será em 31 de outubro. O filme estreou no Festival de Cannes, em maio deste ano, e levou o prêmio de melhor filme na seção Um Certo Olhar desta mostra.

Na mesma edição do evento francês, "Bacurau", de de Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho que era seu principal concorrente para a indicação de representante brasileiro ao Oscar, disputou  em Cannes na competição principal e acabou faturando o prêmio do júri. Ambas foram vitórias inéditas do cinema nacional. 

A obra de Aïnouz é baseada no romance "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", da escritora Martha Batalha, conta a história de duas irmãs que sucumbem, cada uma à sua maneira, ao machismo no Rio de Janeiro dos anos 1950. A impositiva Guida (Julia Stockler) se apaixona por um marinheiro grego e acaba grávida antes do casamento. Já a mais contida Eurídice (Carol Duarte) está resignada a se casar virgem com um sujeito sem graça, vivido por Gregorio Duvivier. Uma mentira fará com que as duas irmãs percam contato uma com a outra por décadas a fio.

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