Descrição de chapéu Televisão

Nova série imagina Brasil que legaliza a maconha e ecoa 'Breaking Bad'

Sem atacar ou defender a erva, 'Pico da Neblina' é mais uma obra sobre drogas a estrear na TV

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São Paulo

A maconha está no ar, em mais de um sentido —na última década, o debate sobre sua descriminalização ganhou força no mundo todo. Uruguai e Canadá já legalizaram a droga para fins recreativos, assim como alguns estados americanos.

Esse novo estado das coisas já repercutiu nas séries de TV. A sitcom “Disjointed”, da Netflix, mostra o cotidiano de uma loja de maconha na Califórnia. Na nova “Flagrantes de Família”, da mesma plataforma, uma família judia francesa transforma seu açougue kosher em butique de cannabis.

E no Brasil, o que aconteceria se a maconha fosse legalizada? É o que pergunta “Pico da Neblina”, que estreia agora na HBO. A ideia da série surgiu quando o jovem cineasta Quico Meirelles (filho de Fernando, diretor de “Cidade de Deus” e sócio da produtora O2) chamou ex-colegas da faculdade para criar projetos. 

Um deles, o roteirista Cauê Laratta, criou o conceito. O nome do programa vem de uma gíria dos aficionados da erva —é assim que eles chamam terraços ou outros lugares altos, onde podem fumar um beque sem serem incomodados, os tais picos da neblina.

A HBO gostou de cara. Mesmo assim, foram precisos seis anos para que ele chegasse ao ar. “Uma das preocupações era a maconha ser liberada no Brasil antes da estreia e sermos ultrapassados pela realidade”, diz o diretor. “Mas demos sorte. No momento, isso está bem longe de acontecer.”

Um dos obstáculos foi a escalação do elenco. Boa parte dos personagens vive em regiões pobres de São Paulo, e era preciso encontrar atores que falassem e agissem como moradores desses locais. 

A O2 fez uma convocação, pedindo que atores iniciantes enviassem vídeos. Dezoito nomes foram selecionados entre 2.600 candidatos, entre eles Henrique Santana, que ganhou um dos papéis principais, o do traficante Salim.

Na vida real, Santana é amigo de longa data de Luís Navarro, que faz o protagonista Biriba —um pequeno traficante que deve decidir seu rumo depois da legalização da erva. 

Mesmo com anos de experiência (fez as novelas “Boogie Oogie” e “Pega Pega”, na Globo), Navarro custou a conseguir o papel. O primeiro teste foi um fracasso. Só quando levou Santana à O2 a produção da série percebeu, com razão, que a amizade verdadeira se refletiria nos personagens.

Biriba é quase um artesão da droga. Ele lava a erva, remove as impurezas, prepara pacotes de diferentes variedades e tamanhos. Só falta enfeitar embalagens com lacinhos. 

Mas perde seu público fiel da noite para o dia depois da liberação, e se vê diante de um dilema. Deve abrir uma loja de maconha com Vini (Daniel Furlan, também colunista deste jornal), um ex-cliente para lá de atrapalhado? Ou cede aos apelos de Salim e até da própria mãe (Teca Pereira) e passa a traficar cocaína e outras drogas ainda ilegais?

No primeiro episódio, Biriba envereda pela via do crime, e acaba se envolvendo numa situação dramática que lembra o começo de “Breaking Bad”. O humor está mais presente no segundo episódio, mas a tensão vai se acumulando ao fundo.

Gravada com recursos próprios da HBO e sem nenhum tipo de financiamento público, “Pico da Neblina” estreia simultaneamente em 70 países. Mas não se posiciona nem contra, nem a favor da legalização da maconha. “Queremos é estimular o debate”, diz Roberto Rios, vice-presidente de originais da emissora. Uma discussão que, no Brasil de hoje, parece ter andado para trás.

Pico da Neblina
Estreia na HBO, neste domingo (4), às 21h

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