O filme “Downton Abbey” nasceu com audiência cativa e não vai decepcionar. Ao se despedir da TV, em 2016, a série britânica tinha conquistado 120 milhões de devotos em 200 países. “Downton Abbey” estreou no Reino Unido no último dia 13 e chegou na sexta (20) aos Estados Unidos. A estreia no Brasil está prevista para 21 de novembro.
Os 20 principais personagens criados pelo roteirista Julian Fellowes estão de volta, um ano depois da despedida, em 1926. A trama da série, exibida ao longo de seis temporadas, começa em 1912.
O ponto de partida para a história do filme é o anúncio de uma visita do rei George 5º e da rainha Mary a Downton Abbey. O clã liderado pelo patriarca Robert Crawley (Hugh Bonneville) está preocupado em cortar despesas para manter seu castelo. No andar de baixo, a numerosa criadagem entra num frenesi diante da oportunidade de servir e limpar para a realeza.
Numa sessão especial do filme nesta semana, em Nova York, o criador de “Downton Abbey” explicou o primeiro desafio da transposição para o cinema. “Numa série, o público não espera grandes tramas toda semana,” disse Julian Fellowes. Em um filme, eu tinha que criar histórias com resolução para as 20 pessoas.”
“Downton Abbey” é embrulhado de presente para os fãs da série e é difícil de acompanhar por quem não conhece os personagens. O orçamento mais gordo vai deliciar quem aprecia a pompa e o luxo da aristocracia britânica. O filme é generoso em imagens aéreas feitas por drones e o castelo medieval de 300 cômodos é exibido em novos ângulos.
“Downton Abbey” é também uma carta de amor à atriz Maggie Smith, memorável como a condessa de Grantham. “É extraordinário escrever para ela, é como fabricar dardos para alguém que acerta todos os alvos,” diz Fellowes. “Ela vai de um momento tocante à hilaridade em cinco segundos sem sair do personagem.”
Nesta mistura de drama e comédia, Maggie Smith arranca gargalhadas com sua condessa esnobe de língua afiada.
O conforto romântico que tornou a série atraente para uma audiência global teve, ironicamente, uma origem mais sombria e menos conformista.
Julian Fellowes ganhou um Oscar como roteirista de “Assassinato em Gosford Park” (2001), do diretor americano Robert Altman, morto em 2006. A premissa do filme —a convivência de classes sob o mesmo teto— foi uma ideia de Altman e do ator Bob Balaban, que viveu no filme um crasso produtor de Hollywood.
Altman, produto do meio-oeste americano, pouco entendia de aristocracia britânica e contratou Fellowes.
O produtor de “Downton Abbey”, Gareth Neame, ficou impressionado com o filme e sugeriu a Fellowes que havia espaço na TV para um drama de época. “Achávamos que este gênero estava morto”, lembra o roteirista, que criou os personagens há dez anos.
No filme “Downton Abbey”, o mundo externo continua desafiando a família Crowley. O ex-motorista Tom Branson (Allen Leech), que vive no castelo depois da morte da mulher, a caçula dos Crowleys, impede um militante irlandês de consumar um atentado. Apesar de seu ardor republicano, tem um momento de reconciliação com a realeza.
Até o mordomo gay Thomas Barrow (Robert James-Collier) consegue a esperança de romance sem sair do armário, décadas antes da descriminalização da homossexualidade.
Pergunto a Fellowes se este mundo bemcosturado não seria um amortecedor para o presente de brexit e Donald Trump. Ele concorda.
“Estas pessoas aderem a etiquetas de comportamento e têm um senso de segurança. Acho que ‘Downton Abbey’ se beneficia da insegurança crescente que vemos no mundo. Suspeito que somos uma zona de conforto para o público”, conclui. Um conforto que, Fellowes deixa escapar, deve continuar num próximo filme.
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