Descrição de chapéu

Álbum de inéditas corre grande risco de ser só mais um do Pixies

Com disco mais fraco até hoje, banda faz som burocrático e dá indícios de que fonte da genialidade secou

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Beneath the Eyrie

  • Onde Disponível nas plataformas digitais
  • Autor Pixies
  • Gravadora BMG

Para a maioria dos fãs do Pixies, e eles são muitos, a expectativa era anunciar “Beneath the Eyrie” com empolgação.

Afinal, este é o sétimo álbum de estúdio de uma das bandas mais importantes na história do rock independente americano. E isso tem um peso.

Se o disco tem todo o mérito de ser um trabalho de canções inéditas, ampliando o repertório da banda sem apelar para regravações, ele é apenas isso —mais um disco do Pixies.

A distância dele para os melhores trabalhos do grupo, na virada dos anos 1980 para a década de 1990, não parece ser limitada apenas ao tempo.

tres homens e uma mulher
Paz Lenchantin, David Lovering, Joey Santiago, Black Francis, do Pixies, em 2016 - Travis Shinn/Divulgação

Se trocasse o projeto de um álbum completo pelo lançamento de alguns singles, pinçados entre as melhores faixas de “Beneath the Eyrie”, talvez a aura poderosa da banda fosse mantida por mais tempo. 

Porque o Pixies sabe fazer um rock cheio de energia. Ou, pelo menos, já fez muito isso.

Claro que há uma diferença fundamental entre o grupo que surgiu há 30 anos e este. E essa diferença passa pela ausência da baixista Kim Deal.

Admiradores da banda talvez parem de ler esse texto aqui, acreditando ter encontrado no crítico mais uma “viúva” da também vocalista.

Não é apenas lamentar a ausência dela, que além de ser uma baixista espetacular e uma cantora de recursos, é uma das mais simpáticas figuras do rock americano.

É que sua saída aconteceu há seis anos, já nesta segunda encarnação do Pixies, que ficou desativado entre 1993 e 2004. E o rompimento foi fruto da insatisfação dela com o atual estilo de som do grupo.

Em 2013, ela saiu do Pixies, sendo substituída por Kim Shattuck, que durou poucos meses na banda, dando lugar à argentina Paz Lenchantin.

Uma nota triste: Kim Shattuck morreu na semana passada, aos 56 anos. A artista sofria havia dois anos de esclerose lateral amiotrófica.

O problema não está na baixista atual. O que incomoda é ver os membros originais produzirem um som tão burocrático. Black Francis (vocal e guitarra), Joey Santiago (guitarra) e David Lovering (bateria) fizeram discos geniais, mas a fonte parece ter chegado ao esgotamento.

O quarteto fantástico dos álbuns “Surfer Rosa”, de 1988, “Doolittle”, de 1989, “Bossanova”, de 1990, e “Trompe le Monde”, de 1991, reúne lançamentos fundamentais na construção de um novo patamar do gênero independente nos EUA.

Junto com Hüsker Dü e Sonic Youth, construíram bases musicais e até mercadológicas para a posterior ascensão da cena grunge, incluindo Nirvana e Pearl Jam.

Em “Beneath the Eyrie”, há um pequeno punhado de canções que até lembram o rock gritado e suado do Pixies em seu auge. “Daniel Boone”, “This Is My Fate” e “St. Nazaire” poderiam ser apresentadas tranquilamente num show de 1989. Dificilmente entrariam entre os destaques da apresentação, mas ajudariam a fechar um repertório bacana.

Há coisas no álbum recém-lançado que despertam a vontade de perguntar a Black Francis por que eles estão tocando aquilo. “Los Surfers Muertos” de legal só tem o título, enquanto coisas como “Ready for Love” ou “Long Rider” precisam de uma injeção com dose concentrada de ânimo.

As letras, que nunca foram exatamente um forte na carreira do Pixies, aqui estão mais esquálidas do que nunca.

Na verdade, é a mesma fraqueza que alguns riffs de guitarra demonstram. Mesmo quando são bonzinhos, dão uma impressão que nunca pega bem na música pop —ser uma canção recente que mais parece uma sobra não aproveitada de um disco antigo.

Assim, se configura o álbum mais fraco da trajetória da banda, e olha que os ainda recentes “Indie Cindy”, de 2014, e “Head Carrier”, de 2016, já tinham deslocado a régua bem mais para baixo.

Fica a curiosidade de saber como o grupo vai encaixar essa nova safra nos shows, com datas marcadas até 2020.

A concorrência com hinos roqueiros como “Gigantic”, “Velouria” ou a poderosa “Here Comes Your Man” é desigual. Quase covardia com a própria história da banda.

Pode ser que outras músicas do pacote fiquem melhorzinhas ao vivo, mas “Beneath the Eyrie” ainda será um disco que chega tarde na vida da banda e não compensa a espera com qualidade. É pouco para quem já foi o Pixies.

Erramos: o texto foi alterado

O álbum do Pixies se chama "Indie Cindy". O texto foi corrigido.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.